Metallica em Portugal: o que mudou 25 anos depois de Alvalade

A maior banda de rock pesado do mundo arranca hoje numa esgotada Altice Arena a segunda metade da WorldWired Tour
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Quase 40 graus em Lisboa. Cerca de 50 mil pessoas em suspenso no antigo estádio de Alvalade para ver, mais de uma década depois da sua fundação, a banda cujo nome se confunde com todo um género musical. O dia 16 de junho de 1993 passou a ser para os fãs do hard "n" heavy o equivalente ao "onde estavas no 25 de Abril?". Ou, neste caso, a pergunta obrigatória passou a ser "estiveste no primeiro concerto dos Metallica em Portugal?". A maior banda de rock pesado do mundo regressa hoje a Lisboa, à Altice Arena, naquele que será o primeiro concerto da segunda metade da WorldWired Tour, esgotado há quase um ano. Mas 25 anos depois, o que mudou na carreira da banda?

Desde logo, o baixista de uma das bandas suporte de 1993 (os Suicidal Tendencies, que, juntamente com os The Cult, tocaram antes dos Metallica) partilha hoje o palco principal com James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett: Robert Trujillo substituiu Jason Newsted, que abandonou o grupo de San Francisco fez agora precisamente 17 anos, em janeiro de 2001, alegadamente por "razões pessoais" e "danos físicos causados ao longo dos anos" pela sua forma de tocar. Trujillo foi contratado em 2003, já depois da gravação de St. Anger, e tocou nos dois álbuns seguintes, Death Magnetic e Hardwired to Self-Destruct, além de Lulu, a parceria com Lou Reed muito mal recebida pela crítica e pela maioria dos fãs da banda.

Essa é aliás uma constante na carreira dos Metallica no último quarto de século: as críticas de muitos fãs aos trabalhos pós - Black Album, o multiplatinado disco homónimo que os lançou para o estrelato mundial e que quebrou as barreiras do metal, muito à conta de músicas como Enter Sandman, Nothing Else Matters e The Unforgiven. Load e Reload, de 1996 e 1997, respetivamente, marcam o corte definitivo com o som - e a imagem - que os colocou entre os big four do thrash metal. Cabelos curtos, fotos estilizadas com peles, cabedal e maquilhagem à mistura, influências blues e country marcadas, um cocktail de novidades que afastou muitos dos que já viam nas baladas do álbum anterior uma cedência à indústria. E que não terá agradado até a todos os elementos da banda.

Numa entrevista recente à revista Clash, James Hetfield, o carismático vocalista/guitarrista dos Metallica, reconheceu que "não estava 100% convencido" em relação ao rumo seguido no final da década de 1990. "Diria que foi um acordo. Eu disse "Vou seguir a visão do Lars [baterista] e do Kirk [guitarrista], vocês estão extremamente apaixonados por isto, então subirei a bordo, pois se os quatro estiverem no mesmo barco será bem melhor". Então eu fiz o máximo que pude por aquilo, mas o resultado não foi tão bom quanto eu esperava. Mas não há arrependimentos, pois naquele momento parecia o mais correto."

Homens de família e menos álcool

Mas se a banda demorou 12 anos a vir tocar a Portugal pela primeira vez, o país tornou-se depois paragem praticamente obrigatória nas tours europeias, a primeira logo precisamente em 1996, três meses depois do lançamento de Load. A partir daí, passaram por todos os grandes festivais de verão da zona de Lisboa - desde o T99 até ao Super Bock Super Rock, Alive e por duas vezes no Rock in Rio - e deram também, em 2010, dois concertos na então Meo Arena, na digressão de Death Magnetic. Tournées cada vez mais alcohol free - como o próprio vocalista da banda admite, depois de se ter submetido a um programa de reabilitação - e muitas vezes acompanhadas pelas famílias dos músicos - por exemplo, em 2010, o público português teve oportunidade de cantar os parabéns ao filho de James Hetfield, Castor.

Essa é, aliás, outra constante das últimas décadas: digressões dos Metallica esgotadas e entre as mais rentáveis a nível mundial. Só nos Estados Unidos, a WorldWired Tour rendeu no ano passado cerca de 90 milhões de euros, correspondentes a mais de um milhão (1,1 milhões) de bilhetes vendidos, à frente dos Guns "n" Roses, que arrecadaram 80 milhões.

Um pecúlio a juntar a uma fortuna que engordou muito à conta do disco negro - o álbum homónimo dos Metallica já vendeu mais de 16 milhões de cópias só nos EUA e cerca de 40 milhões em todo o mundo - e que lhes permitiu embarcar em várias aventuras neste último quarto de século. Algumas bem-sucedidas (como a criação da sua própria produtora, a Blackened), outras nem por isso (como produzir e coprotagonizar Through the Never, um filme realizado em 2013 por Nimród Antal, ou criar o seu próprio festival, o Orion Music + More, cancelado ao fim de duas edições por problemas financeiros).

Os tempos do thrash nunca mais voltarão para os Metallica, e o dia 1 de fevereiro de 2018 poderá não ficar tanto na memória como aquela noite de junho de 1993, mas a banda continua a ser uma das mais influentes do mundo. O primeiro grande concerto do ano em Portugal é prova disso.

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