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Coragem, determinação, curiosidade, persistência e resistência são algumas das características de um bom jornalista de investigação. Na defesa do interesse de todos, ele está disposto a pagar qualquer preço cada vez que expõe interesses ocultos, jogos de poder ou disfunções muito pouco inocentes legitimadas por leis vazias, desenhadas à medida, que servem apenas aquilo que convém a alguns.

O compromisso do jornalista de investigação é apenas com a verdade. Custe o que custar, envolva quem envolver. Esta missão não é fácil e exige uma grande capacidade de resistência por parte do profissional. Ceder à pressão e vergar uma vez, condicionará para sempre a sua postura.

A verdade não prescreve, nem tem preço. A busca da verdade pode levar um jornalista a enfrentar ameaças, mais ou menos explícitas, bullying jurídico e económico e até tentativas maquiavélicas de assassinatos de caráter, onde chegam a usar os nossos próprios meios e colegas. Já me aconteceu. Mais do que uma vez. Nunca desisti. Sempre resisti.

Às vezes tenho a sensação de que a fibra destes profissionais é potenciada por esta luta desgovernada que temos de enfrentar cada vez que tentamos lançar um trabalho de investigação. Certeza? Apenas que esta força interior vem da convicção de quem acredita que está a fazer o que está certo, de quem sabe que este jornalismo é o garante do Estado de Direito e da maturidade democrática.

Anna Politovskaya, uma jornalista de investigação russa que foi assassinada a mando dos poderes obscuros que tentou denunciar, chamava aos colegas que se rendiam "servos" de Putin e "palhaços" que ajudavam a transformar o jornalismo em "propaganda". Na verdade, uma investigação séria incomoda e provoca, quase sempre, "forças de bloqueio" e jogos baixos de bastidores a que devemos ser imunes. Cada vez que tal acontece, é sinal de que estamos na direção certa.

Sabemos e admitimos que errar é humano, mas a tentativa de humilhação pública e da destruição do caráter daqueles que tão bem souberam defender o nosso país do aproveitamento e manipulação corrupta do Estado só acontece certamente por má-fé, inveja ou necessidade de provar qualquer coisa que não tem de ser provada - antes bem explicada ou alterada, para que, assim, a justiça possa funcionar ainda melhor no encalce de quem destrói a credibilidade e independência do Estado. Interesse público não é perseguir, mas sim prosseguir em frente, sem medo, para desvendar toda a verdade porque, para os jornalistas, a verdade não prescreve.

Nós jornalistas devemos, de forma cada vez mais empenhada, fazer a nossa parte e fazê-la muito bem feita. É por isso que, hoje, apostar no jornalismo de investigação é sinónimo de coragem, mas também de mérito, sobretudo neste mercado frágil que envolve as empresas de media. É igualmente sinónimo de inteligência e de esperança. Inteligência por perceber que este caminho é o único que garante uma sociedade bem informada e justa que sabe exercer os seus direitos. Esperança porque é algo que nos diferencia e valoriza aos olhos de todos, incluindo daqueles para quem este tipo de jornalismo constitui uma ameaça.

Feitas as contas, o lucro social e a notabilidade de um projeto de jornalismo de investigação têm um valor sempre superior ao seu custo operacional ou a uma simples previsão financeira em folha de Excel. Investir e apostar mais neste jornalismo vai trazer a todos, sem exceção, um superavit social impagável que nos distinguirá sempre na comparação com os nossos congéneres Estados maturos e desenvolvidos, pois não tenhamos dúvidas que também o jornalismo de investigação livre e credível defende sempre o nosso país aos olhos do mundo.

Jornalista

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