Mário Andresen Leitão não tem dúvidas: é só ali, no número 333 da Rua de São Bento, em Lisboa, que há chocolates com sabor a espinheiro-do-mar, uma baga que existe sobretudo no Norte da Europa, mas que, por cá, se encontra na Costa Vicentina. O Denegro é um dos oito espaços que integram o roteiro do chocolate da capital, elaborado a propósito do Chocolate em Lisboa, que decorre entre hoje e domingo no Campo Pequeno. O percurso é de deixar água na boca até aos menos gulosos..O passeio começa na Avenida Duque d"Ávila: a hora convida já a almoçar, mas, na L"Éclair, é uma altura tão boa como qualquer outra para experimentar a especialidade da casa... até abril. "Neste momento, temos a coleção outono-inverno", explica Matthieu Croiger,filho de mãe portuguesa e pai francês e proprietário da pâtisserie (padaria gaulesa especialista em bolos e doces) que abriu há cerca de dois anos no 44 da Avenida Duque d"Ávila. O Paris-Brest, um éclair de praliné de amêndoa e avelã, é, até lá, a "peça" em destaque.."O praliné foram os belgas que inventaram", aproveita para explicar Odete Estêvão, mestre chocolateira e presidente do Clube de Cacau de Portugal. É ela a nossa guia por um percurso que, do Saldanha, segue, precisamente, para a Pralines Leonidas, na Avenida Álvares Cabral, a meio caminho entre o Rato e a Estrela. No balcão recheado de chocolates há, porém, um intruso: o gianduja, de origem italiana, cuja massa, igualmente de avelã, é mais fina do que a do praliné. A diferença está nos detalhes..Sem segredos."O mundo do chocolate é enorme", afiança a especialista, associada à organização do Chocolate em Lisboa, que visa "mostrar o que há de melhor" nesse universo. "Há ali marcas que não há em supermercados", como a Callebaut e a Valrhona, exemplifica Odete Estêvão. O evento tem entrada paga a partir dos 5 anos e, além do mercado, inclui workshops e demonstrações de culinária em que o chocolate é rei. Neste ano, a iniciativa, que tem o Peru como país convidado, deverá ficar marcada pela escultura, ao vivo, de uma estátua com 1,7 metros de altura de um imperador inca e produção, em roda de oleiro, de artefactos daquela civilização em chocolate (ver caixa)..As dimensões são bem mais na Denegro, onde os produtos são todos de fabrico artesanal, mas sem segredos. "Com farinha e ovos faz--se sempre um bolo: se todos têm a mesma capacidade para o fazer é que é outra história", compara Mário Andresen Leitão, sócio da loja que abriu em 2007 em Telheiras e em 2011 se mudou para a Rua de São Bento. Além do sabor de espinheiro-do-mar, o chef António Marques inovou ainda ao nível do chocolate preto, com o Saudade: "É chocolate preto não amargo para as crianças poderem comer.".O chocolate que mais bem faz à saúde domina também na Chocolateria Equador, na Rua da Misericórdia, 72. A marca nasceu no Porto, tem fábrica própria em Leça do Balio (Matosinhos) e vende sobretudo tabletes. Localizada entre o Chiado, o Príncipe Real e o Bairro Alto, tem nos turistas 90% da sua clientela, que prefere o chocolate negro com vinho do Porto, logo seguido do chocolate negro com ginja. Já os portugueses, adianta a diretora da loja, Concha Valente, optam por beber chocolate ou saborear um bombom ou uma trufa acompanhada de um café..A Ice Gourmet, nos Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, a O Melhor Chocolate do Mundo, na Rua Coelho da Rocha, 99 (Campo de Ourique), a Tease, na Rua Nova da Piedade, 15 (Príncipe Real) e a As Marias com Chocolate, no Mercado de Santa Clara, perto da Feira da Ladra, completam o roteiro. As especialidades são, respetivamente, o gelado de chocolate branco, o bolo de chocolate e suspiro, os cupcakes, nomeadamente o de chocolate com frutos vermelhos e o red velvet, e o chocolate quente.