Gil nunca deixou o futebol: agora gere a carreira dos filhos

Antigo ampeão mundial de sub-20 (1991) não cumpriu as promessas da juventude mas continua ligado ao desporto-rei. Foi treinador e agente, agora acompanha os herdeiros
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Gil passou por Portugal como um cometa (subiu a sénior em 1989, foi embora em 1995 e cobriu-se de glórias com as camisola das seleções nacionais jovens) mas nunca deixou de ter o futebol a correr do bicos dos pés a ponta dos cabelos. Ainda hoje é assim: depois de ter sido treinador e agente de jogadores, o antigo avançado, campeão mundial de sub-20 em 1991, radicado em Inglaterra desde 1999, faz a gestão da carreira dos herdeiros que continuam o seu legado nos relvados, os filhos Angel e Rico (ormados no Manchester United).

"Quando deixei de jogar futebol, fiz questão de preparar o meu futuro em diversas áreas. Tenho formação como treinador de futebol, UEFA nível B: já estive a treinar nas escolas do Manchester United e tive a minha própria escola de futebol em Manchester, chamada The Champion. E também fiz a formação para ser agente FIFA: durante alguns anos representei alguns treinadores e jogadores", descreve, ao DN, Gil Gomes. Com o fim da era dos agentes FIFA, o ex-futebolista assumiu outro papel: "agora sou FA [football agent] intermediário e tenho a representação dos meus filhos Rico Gomes e Angel Gomes", explica o ex-atleta, de 44 anos.

Os filhos? "Só fiz o meu papel"

Esse é, de resto, o mais que mais gosto lhe dá desempenhar. "O que me dá mais prazer no trabalho que faço é saber que represento os meus filhos e tudo farei para guiá-los para um futuro melhor". Rico Amor Gomes, de 22 anos, foi formado nas escolas do Manchester United e teve como último clube o Thesprotos, da segunda divisão grega. Já Angel tem 16 anos, "está firme" nas camadas jovens dos red devils e até já representa a seleção inglesa do seu escalão. "Ele tem o sonho de chegar a primeira equipa e acredito que lá chegará, sem dúvidas", afiança o pai, embevecido.

Para Gil, foi normal que os filhos escolhessem este caminho. "Desde pequenos que se mostram feitos para o futebol. Eu só fiz o meu papel de incentivar, ir treinando com eles desde pequeninos e deixá-los estar na rua a jogar futebol de rua", conta. E nem o surpreendeu ou desiludiu que Angel escolhesse representar antes a seleção de Inglaterra (o pai tem nacionalidade portuguesa e angolana). "O Angel nasceu em Londres (Enfield), é o capitão da seleção inglesa e sente se bem. Por isso, por lá vai ficar", admite o antigo campeão do mundo de sub-20.

O dom de ensinar futebol

Angel e Rico foram, afinal, os pupilos que mais puderam aprender com Gil. E mesmo que a carreira de treinador esteja agora em pousio, o ex-atleta reconheça o gosto que lhe dava ajudar a formar novos talentos. "Trabalhar com crianças é algo que me dá um grande prazer. Eu tenho um grande amor [por isso] e um dom especial para ensinar futebol", afirma.

No fundo, o antigo jogador de Benfica, Ovarense, Braga e Estrela da Amadora estava fadado a continuar sempre ligado ao futebol. Gil não se imagina a fazer outra coisa - só "talvez cantor, porque é algo que gosto de fazer nos meus tempos livres". E esse foi sempre o seu foco desde que largou os relvados, após passagens por França, Suíça, EUA, Itália e uma mão-cheia de clubes dos escalões secundários de Inglaterra.

"Orgulho pela geração de ouro"

Afinal, mesmo que a carreira como sénior não tenha correspondido às promessas que Gil trazia na ponta das chuteiras enquanto júnior e juvenil, o ex-jogador luso-angolano não esconde ter "muito orgulho por ter feito parte da geração de ouro do futebol português". "Sou feliz por ter ganho tudo que tinha a ganhar com Portugal, a titulo individual e coletivo", garante.

Da polémica que rebentaria anos após o mundial de sub-21 (com as denúncias de que Gil e Cao teriam as idades adulteradas e seriam mais velhos do que realmente declaravam), o ex-jogador prefere não falar. "Águas passadas não movem moinhos", atira, preferindo as "melhores recordações da carreira", como "ter jogado no Benfica, sido campeão da Europa e do Mundo, ter sido melhor jogador e melhor marcador num Europeu de sub-16 [1989]". Nesse Campeonato da Europa, realizado na Dinamarca, Gil faturou em todos os cinco jogos (incluindo a final, 4-1 sobre a Alemanha oriental) e marcou dez golos, no total.

Ainda assim, e apesar de outras belas memórias com a camisola das quinas - incluindo um 3.º lugar num mundial de sub-17, um 2.º num europeu de sub-18 e outro segundo num europeu de sub-23 - o antigo goleador reconhece que o momento mais especial da carreira "foi, sem dúvidas, a conquista do Campeonato do Mundo sub-20" de 1991. Em pleno Estádio da Luz (Lisboa), diante de mais de 120 mil espectadores, Portugal concluiu a prova com uma vitória, nos penáltis, sobre o Brasil (4-2), após um empate 0-0 no final do tempo regulamentar.

Passado mais de um quarto de século, a ligação com os outros campeões do mundo (onde se incluíam futuras vedetas como Luís Figo, Rui Costa e João Vieira Pinto, entre outros) continua a existir. "Mantenho contacto com quase todos, porque sou comunicativo...", conta o ex-atleta. Nem podia ser de outra maneira: afinal, mesmo longe dos relvados e da vista dos adeptos portugueses, Gil nunca deixou o futebol.

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