Está a chegar ao fim a mais longa liderança maçónica desde o 25 de Abril
Está prestes a chegar ao fim a mais prolongada liderança do Grande Oriente Lusitano (GOL) desde o 25 de Abril. Os "irmãos" da mais antiga obediência maçónica em Portugal elegem hoje o novo grão-mestre, escolhendo entre um histórico da organização, Fernando Cabecinha, e Carlos Vasconcelos, atual vice-grão mestre. Um deles sucederá ao atual chefe da organização, o advogado e gestor Fernando Lima Valada, que foi eleito pela primeira vez há dez anos e reeleito depois duas vezes (2014 e 2017).
Após o 25 de Abril, o GOL voltou a poder funcionar legalmente - tinha sido ilegalizado em 1935, numa decisão que, de resto, fez cessar a simpatia de Fernando Pessoa por Salazar - e desde então nunca nenhum grão-mestre esteve tanto tempo à frente da organização.
O mais que aconteceu foram grão-mestres com dois mandatos (de três anos cada): Luís Dias Amado (1975-1981), Eugénio de Oliveira (1996-2002) e António Reis (2005-2011). Ninguém antes de Fernando Lima Valada tinha acumulado três mandatos. E as regras da organização não impõem, na verdade, nenhuma limitação. O covid-19, que chegou a Portugal em março de 2020, forçou o GOL a suspender o essencial das suas atividades presenciais - e as eleições são presenciais -, prolongando o terceiro mandato do grão-mestre por mais um ano.
Embora podendo agora recandidatar-se, Fernando Lima Valada decidiu não o fazer, comunicando isso a todos os membros da organização em fevereiro de 2020. Para que não se continuassem a alimentar "ambiguidades, inverdades, sussurros, notícias inexatas ou perturbadoras", Fernando Lima Valada comunicou a sua "total indisponibilidade" para voltar a ser candidato grão-mestre.
Meses antes, em dezembro de 2019, já admitia estar em "reflexão", dizendo que seria feita "no tempo certo, sem precipitações, sem pressões extemporâneas ou impulsos de momento, em total liberdade, com total responsabilidade" e sem que se deixasse "condicionar pelo que quer que seja". "O meu único compromisso é com o Grande Oriente Lusitano, de que devo ser o centro de união, no que sou coadjuvado pelos grão-mestres adjuntos e o Conselho da Ordem, com quem farei a avaliação do trabalho desenvolvido", escreveu então.
Como já tinha acontecido em 2017, também desta vez a escolha do líder do GOL está a exigir duas voltas. Na primeira, realizada em 30 de outubro, confrontaram-se três candidatos: além de Cabecinha e Vasconcelos, também se apresentou a votos o antigo secretário de Estado (nos governos de Guterres) Luís Parreirão.
Fernando Cabecinha foi o mais votado (565 votos), seguindo-se, bastante próximo, Carlos Vasconcelos (536 votos). Luís Parreirão ficou pelo caminho. Os 259 votos que obteve serão no entanto hoje decisivos para decidir quem sucederá a Fernando Lima Valada.
Cabecinha candidatou-se dizendo que o GOL necessita, "urgentemente", de "colocar em prática os necessários mecanismos de solidariedade e, sobretudo, o trabalho de defesa intransigente" dos "princípios e valores" da obediência, para que "não se vá deslassando o cimento que nos une". Importa transmitir esses valores "exemplarmente" e "através de comunicação eficaz", interna e externamente.
Já Vasconcelos apresentou-se afirmando que o GOL "não pode viver fechado sobre si mesmo", "tem saber interagir com a cidade e tem de exigir a todos que sejam exemplo". O objetivo é "a afirmação da maçonaria como uma elite moral, cada vez mais rigorosa e exigente consigo própria" na qual as lideranças sejam "independentes de qualquer poder exterior à maçonaria, seja económico, político, religioso ou de qualquer outro tipo".
As eleições ficaram marcadas por acusações de um maçom do Porto, José Paupério, supostamente arguido num processo de fraude fiscal - e que responsabiliza por isso Fernando Cabecinha, cujos serviços em tempos terá contratado. Este já disse à "Visão" que a história vai acabar em tribunal.