COVID-19, um vírus tão magrebino quanto luso!

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A principal semelhança entre Portugal, Marrocos e Argélia actualmente, é a pandemia que insiste em não baixar para valores residuais que nos devolvam um sentimento colectivo de segurança.

Marrocos (16545 infectados/263 mortos) fechou-se ao Mundo logo no início de Março e proibiu todo o tipo de saídas injustificadas de casa, voltando aos papéis, carimbos e guias de marcha de outros tempos. Gizou um plano de desconfinamento em 3 fases, mantendo sempre a possibilidade de voltar atrás nas datas e nas exigências à população. E tem havido sinais de que todo o esforço não chegou para entrarem no 2º semestre mais descansados e com esperança no futuro. Por exemplo, nas vésperas do início da fase 2 do desconfinamento, de 20 de Junho, um foco vem a público na região industrial de Kenitra (50 Km a norte de Rabat), cuja maioria dos testados infectados trabalham em unidades de acondicionamento de morangos, colocando os mundos rural e industrial dos arredores da Capital na rota do "bicho". 14 de Julho, marcou o início da 3ª fase de desconfinamento nacional e o isolamento de Tânger do restante reino, após terem sido registados múltiplos focos nesta cidade com tradição de internacional e franca, uma das portas de entrada em África, enquanto no dia 15 se reabriram as mesquitas, Tânger incluída. A média de infectados diários em Marrocos é semelhante à registada em Portugal, pois se num dia apresenta quase 300 casos, no seguinte apresenta 165, variando nesta oscilação. O último número divulgado, do dia 16, por exemplo, regista 283 novos casos e 4 mortes.

A Argélia (21355 infectados/1052 mortos) está pior, registando uma média de 500 casos diários, uma saturação dos serviços hospitalares e vários casos de indisciplina por parte das populações, como o da realização de casamentos e outros ajuntamentos de cariz religioso, como cerimónias de circuncisão ou as festas no final do último Ramadão em Maio, que apesar de caseiras, proporcionam ajuntamentos proibidos no contexto Covid.

Há também que registar que o novo Governo e Presidência pós-Bouteflika, está a lidar com esta crise recorrendo a métodos antigos, demitindo médicos que denunciam a situação de ruptura hospitalar, não assumindo responsabilidades e colocando o ónus no comportamento das populações. A registar também a morte de 3 médicos, só em Julho.

Dadas estas contingências, as fronteiras marroquinas e argelinas continuam fechadas aos mercados normais, sendo a excepção os voos de repatriamento. O Presidente argelino disse mesmo que "as fronteiras ficarão fechadas até que Deus nos livre deste flagelo!"

O fenómeno magrebino, digno do Entroncamento, chama-se Tunísia (1327 infectados/50 mortos), que a partir do início de Junho passou a registar 3 e 4 dias seguidos sem novos casos, pelo que se pode dizer que do panorama magrebino, a Tunísia tem o vírus controlado, temendo agora a vinda dos emigrantes e turistas durante Julho e Agosto. Para tal muniu-se de termómetros no Aeroporto de Tunes, instrumento que atingiu aura de satélite e vai certamente resolver!

Quanto ao restante Magrebe, a Mauritânia (5564 infectados/149 mortos) continua em curva ascendente, com uma média de 80 casos diários, o que parece pouco, mas com um número de exames diários muito residual comparativamente aos países vizinhos citados. O mesmo se pode dizer para a Líbia (1652 infectados/46 mortos), cuja situação de guerra secundariza a luta contra a pandemia.

Independentemente dos números e dos exames realizados, parece começar a ser consensual a necessidade, para que a vida continue e faça sentido, de nos habituarmos a viver com o vírus, a termos infectados, curados e zero mortos, como se de uma constipação se tratasse.

Ah e Parabéns Tunísia, quem nos dera "estar na tua praia"!

Raúl M. Braga Pires

Politólogo/Arabista

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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