Banco angolano na Bolsa de Lisboa seria uma "boa notícia"
Tem sido escasso o interesse dos investidores pela Bolsa de Lisboa. Nos últimos anos, o saldo de entradas e saídas do PSI 20 é, aliás, negativo. Mas, a avançar, a entrada do Banco de Fomento Angola (BFA) no principal índice acionista português, como pretende a empresária Isabel dos Santos, poderá ser uma novidade que traz uma nova dinâmica ao mercado acionista nacional, antecipam os analistas.
A última oferta pública de venda (OPV) bem-sucedida em Portugal foi a dos CTT, que entrou em Bolsa no final de 2014 e rendeu ao Estado um total de 909,2 milhões de euros (nas duas fases). Antes disso, houve a antiga Espírito Santo Saúde, atual Luz Saúde, que negociou a 3,20 euros por ação, avaliando então a empresa em 306 milhões de euros. As ações da empresa liderada por Isabel Vaz foram para a Bolsa em fevereiro e, passados sete meses, tinham valorizado 55% - é hoje, porém, detida em 96% pela Fosun, através da Fidelidade.
A entrada do BFA, neste contexto, pode animar a praça lisboeta. "Seria uma boa notícia para dinamizar a atividade da Bolsa, que tem vindo a perder ativos", considera João Pereira Leite, diretor de investimentos do Banco Carregosa.
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Na verdade, têm sido mais as saídas do que as entradas em Lisboa, mesmo entre as cotadas que compõem o índice nacional - desde 2014, quando BES e Espírito Santo Financial Group saíram de Bolsa, o PSI 20 tem apenas 18 empresas, depois de, já neste ano, Banif, Impresa e Teixeira Duarte terem sido substituídas por Corticeira Amorim, Sonae Capital e Montepio.
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A realidade portuguesa é, no entanto, bem diferente da do resto da Europa. Só no primeiro trimestre deste ano, segundo os cálculos da consultora PwC, as OPV lançadas nas bolsas europeias já ascendem a 3,5 mil milhões de euros. Em 2015, foram investidos 57,4 mil milhões neste tipo de operação, mais 16% do que os 49,6 mil milhões de 2014.
"Operação importante"
A chegada do banco angolano à Euronext Lisbon seria capaz de agitar as águas. Eduardo Silva, gestor da XTB, nota que seria uma operação "importante", já que "se trata de um dos principais bancos angolanos". E tendo em conta "a evolução do banco e o impacto nas contas do BPI nos últimos anos", seria "positivo" para o mercado acionista português.
Steven Santos, gestor do BiG, concorda. "Como ocorreram poucas estreias na Bolsa de Lisboa, e várias cotadas estavam a atravessar fases de reestruturação, tem havido poucas empresas atrativas para os investidores".
A acontecer, será inédito - não há nenhuma cotada estrangeira na Bolsa de Lisboa - e pode abrir portas a outras empresas, embora isso não seja do interesse de todas.
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Quanto a mais entradas de empresas no PSI 20, João Pereira Leite lembra que "a cotação implica uma valorização independente do valor do ativo e obriga a instituição a cumprir requisitos regulatórios exigidos a todas as empresas cotadas, como informações periódicas de resultados, corporate governance alinhado com as melhores práticas, etc." (ver caixa da página 5). Além disso, diz Eduardo Silva, ainda que as eventuais empresas estrangeiras que quisessem cotar-se em Lisboa "pudessem beneficiar de mais exposição e liquidez", teriam, por outro lado, "de abdicar de controlo", o que poderá ser um entrave à sua entrada no PSI 20.
O que falta em Portugal é, em primeiro lugar, capital, aponta João Pereira Leite. "As OPA só são lançadas quando se quer controlar a gestão da empresa ou quando as ações estão tão baratas face às expectativas que, economicamente, faz todo o sentido comprar mais ações. Em ambos os casos, é necessário capital e expectativas positivas para o negócio." E se "capital não tem abundado", quanto às expectativas, "temos um cenário macro complicado e uma história rica em insucessos de gestão. Em muitos casos, a administração destas empresas saiu muito beneficiada, ao contrário dos acionistas que representavam. Este tipo de práticas afasta os investidores, que querem gestores com interesses alinhados com os seus", afirma o analista.