A luta desigual dos filhos dos jihadistas pela sobrevivência
Estes bebés têm traços asiáticos, africanos ou europeus. Nasceram no reduto do califado, Baguz, onde teve lugar a última batalha liderada pelas milícias curdo-árabes contra o ISIS. Ao todo são 75 e lutam pela sobrevivência num hospital curdo do noroeste da Síria depois de serem evacuados dos campos de acolhimento para membros do ISIS, onde ainda estão as suas mães, mulheres vindas de todas as partes do mundo, que responderam à chamada do Estado Islâmico.
Entre estas crianças, magras, desnutridas, doentes, há órfãos. Outras ainda recebem as visitas das mães, embora elas permaneçam detidas nos campos. Quase nenhuma ultrapassa os três anos. Em comum têm o estigma de serem descendentes do Estado Islâmico.
As fotos impressionantes destas crianças são mostradas pelo El País, num trabalho assinado pela jornalista freelancer Natalia Sancha, que recorda ainda que só o facto de existirem, estes bebés representam um autêntico desafio para os países de origem dos seus pais.Portugal - noticiava este sábado o Expresso - está a preparar uma ação para ir buscar os bebés e as mulheres dos jihadistas portugueses à Síria, adiantando que há crianças em risco de vida em três campos de detenção. Há outros países que optaram por repatriar os órfãos. Como diz Natalia Sancha são crianças que, desde o berço, não lançam palavras de ordem jihadistas mas sim respirações ofegantes, tosses sonoras e choros arrepiantes.
A descrição continua: "Dezenas de pares de olhos sobressaem nas caras amarelas com cabeças rapadas, algumas com pontos de sutura, outras queimadas. Essas cicatrizes são as únicas marcas que espiam esses pequenos que sobreviveram a uma guerra. No berço que preside à sala, três bebés permanecem sentados, olhos bem abertos, imóveis, silenciosos, mas em estado de alerta. Não choram, não gemem, não reagem às carantonhas. As crianças, com braços ossudos, estão divididas entre a vida e a morte. Como os 123 bebés que morreram desde dezembro nesta região devido à desnutrição, hipotermia ou problemas respiratórios."
A jornalista conta que as enfermeiras pedem que não diga o nome do hospital, nem os seus. Temem que alguns pais, que fugiram dos campos de detenção, possam ir até lá, para se vingarem da morte dos seus filhos.
E cita o porta-voz da ONG, Comité Internacional de Resgate, que lhe respondeu por mail às questões. Paul Donohoe diz que qualquer que seja o crime que os seus pais cometeram, as mais de 3500 crianças que definham nos campos da Síria deviam ser retiradas pelas autoridades dos seus países de origem para garantir a sua segurança e bem-estar.