A história da Guerra Fria que não esquece Portugal por Odd Arne Westad
O historiador norueguês Odd Arne Westad tem escrito bastante sobre a Guerra Fria, a que segundo o autor possui um tom maior entre 1945 e 1989, e a edição do seu trabalho A Guerra Fria - A Criação de Um Mundo vem mesmo na hora em que tanto se fala de uma repetição daqueles tempos na atualidade. Westad caracteriza historicamente este período tão perigoso para a população da Terra e logo na introdução dá como exemplo o caso do seu país, onde uma minoria perfilhava os ideais da União Soviética e uma maioria achava que o fim do mundo pela via da guerra nuclear poderia acontecer na manhã seguinte.
Falando de pequenos países como a Noruega, uma das situações mais curiosas deste livro é ver que ele não se esquece de uma outra nação pequena, Portugal, e enquadra-o repetidamente neste estudo. Por isso, quando se pesquisa no índice remissivo encontra-se uma dúzia de referências à nossa história, particularidade que quase só por si justificaria a leitura.
Assim, à página 83, surge a afirmação de que "os governos autoritários de direita de Franco e de Salazar só sobreviveram por se terem mantido neutros durante a Segunda Guerra Mundial - nada que não se saiba - e, mais à frente, o autor começa a analisar outras características nacionais: "A adesão (à OTAN em 1949) mais curiosa foi a de Portugal, que nem era uma democracia nem fora aliado na II Guerra Mundial. Todavia, tanto a Grã-Bretanha com os Estados Unidos consideravam as ilhas atlânticas portuguesas como bases essenciais em caso de guerra contra os soviéticos." Não deixa de fazer uma análise aos impérios coloniais em desgraça, à exceção do português, e a guerrilha promovida pelo MPLA e o PAIGC (p. 301 e 355); bem como a mudança do paradigma com a Revolução do 25 de Abril, momento em que a caso português mais espaço ocupa neste volume de 700 páginas, a par da continuada crise de relações diplomáticas entre Portugal e os EUA (p. 519), tanto no pré-Revolução dos Cravos como nos anos imediatamente seguintes. O autor não deixa de referir também a emigração dos anos 69/70 e a adesão à CEE (p. 535).
A outra presença no índice remissivo frequente é a do Partido Comunista Português e o seu "apoio declarado à União Soviética" (p. 518) e a polémica Reforma Agrária (p. 534), em que Westad confessa a sua passagem pelo nosso país em 1988, designadamente pelo "Alentejo empobrecido".
Como na Guerra Fria, Portugal só existe como pequeno personagem, no resto da investigação vão surgindo os temas e protagonistas mais importantes para definir esta época histórica. Os capítulos iniciais explicam como se monta esta grande "operação" de divisão bipolar do planeta em termos políticos, enquanto os finais demonstram a crise do sistema soviético na década de 80, o seu isolamento na interação com o mundo capitalista, uma época em que a situação da influência política na América Central era complexa, tal como a disputa pela esfera de dominação em África e na Ásia, e a invasão do Afeganistão, um problema sem resolução. E aí surge um dos capítulos mais determinantes de A Guerra Fria, aquele onde se faz a história de Gorbachev, o presidente que desencadeia o fim do império soviético, sem esquecer a novidade negocial de Reagan. Contudo, o mundo mudara tanto que a Guerra Fria já não tinha lugar.
A Guerra Fria - Uma História do Mundo
Odd Arne Westad
Ed. Temas e Debates
702 páginas
PVP: 27,70 euros