'Vendetta' de San Luca deixa Calábria em alerta
San Luca, na região italiana da Calábria, parecia ontem uma cidade-fantasma. As ruas estavam desertas e os poucos habitantes visíveis recusavam falar com os jornalistas. Durante a noite, a polícia realizou mais de 50 buscas em casas de pessoas suspeitas de ligações aos dois clãs da Mafia calabresa envolvidos na execução de seis dos seus membros em Duisburgo, no oeste da Alemanha. As autoridades da região situada na biqueira da bota italiana querem evitar uma nova vendetta entre mafiosos.
Nas entradas da localidade italiana, a polícia estabeleceu postos de controlo para evitar a vingança dos Nirta-Strangio e dos Vottari-Pelle-Romeo. As duas famílias, originárias de San Luca, estão em guerra há 16 anos. As autoridades alemãs confirmaram que os seis corpos crivados de balas encontrados em dois veículos estacionados frente ao restaurante italiano Da Bruno em Duisburgo têm "prováveis" ligações à Ndran-gheta, a Mafia calabresa.
As vítimas do que parece ter sido uma vingança tinham entre 16 e 38 anos e estavam ligadas ao restaurante situado junto à estação de comboio da cidade mineira alemã. Os investigadores confirmaram que pelo menos dois dos mortos pertenciam ao clã Vottari-Pelle-Romeo, instalado há 20 anos na região de Duisburgo. Citada pelo Corriere della Sera, Nunzia Barone, irmã de uma vítima, garantiu: "O meu irmão não é mafioso".
Os responsáveis italianos acreditam que o crime de quarta-feira é mais um episódio da chamada vendetta de San Luca. Esta vingança teve início em 1991, com uma rixa entre os Nirta-Strangio e os Vottari-Pelle-Romeo durante a festa de São Valentim. Desde então já morreram mais de duas dezenas de pessoas ligadas aos dois clãs. Para Roma, o massacre de Duisburgo é a resposta ao assassínio, no Natal de 2006, da mulher do chefe de uma das famílias.
Surpreendente, para os estudiosos da Mafia calabresa, é o facto de a vendetta ter ocorrido no estrangeiro. "Foi um massacre sem precedente na história da Ndrangheta", disse o presidente da comissão parlamentar antimafia, Francesco Forgione.
Desde o início do ano, a polícia italiana já deteve 228 alegados membros da Mafia calabresa, considerada a mais perigosa a nível mundial. Ontem, as autoridades da Calábria reuniram-se para analisar o avanços na investigação ao massacre de Duisburgo e prevenir uma escalada da violência no sul de Itália. Muitos polícias que gozavam um fim-de-semana prolongado foram chamados de emergência. Os carabinieri estavam presentes nas estradas para San Luca e a população da localidade (4400 pessoas) deu conta à AFP da presença agentes à civil.
O ministro do Interior, Giuliano Amato, sublinhou a necessidade de garantir a segurança na Calábria para evitar um "terceiro acto" na vendetta de San Luca. | Com agências