'Velhos do Restelo' ou a reserva moral de um clube

Publicado a
Atualizado a

Longe vão os tempos dos Descobrimentos portugueses. Da praia do Restelo, há muito que as naus já não se fazem ao mar. Nos dias de hoje não se navega por rotas incertas na busca de fama, glória e riqueza. Mas os "velhos do Restelo" por lá continuam, agora como uma espécie de reserva moral de um clube que se tenta renovar para outras "descobertas". São os sócios mais antigos do Belenenses.

Fundado a 23 de Setembro de 1919, o clube é um dos mais carismáticos da história do futebol português. Detentor de um campeonato nacional, na época de 1945-46, e vencedor de três taças de Portugal, o Belenenses já foi considerado como o quarto grande do País. Um dos principais problemas que assombram este clube é a fraca assiduidade dos adeptos no estádio, sendo que o pequeno grupo dos "velhos do Restelo" está sempre presente.

João Pires, de 84 anos, é um desse adeptos que acompanham o emblema da cruz de Cristo há largos anos. Para este sócio, cujo clube já faz parte do seu quotidiano, uma das grandes mudanças que afectou o Belém reside no facto de o futebol "ter perdido a verdade desportiva. Hoje em dia, cometem-se barbaridades que não se via antigamente. Havia mais transparência e a sede de ganhar não era tão forte. Actual- mente tudo é permitido para atingir os fins", afirma. João Pires acredita ainda que "o clube perdeu muito quando mudou de sítio. O nosso local ideal eram as Salésias, zona onde foi construída a Escola Marquês de Pombal. Quando houve a mudança, o clube teve de investir muito dinheiro na construção deste estádio, pois este era um local muito rochoso. Foi um grande sacrifício e não tivemos nenhuma compensação monetária com a mudança."

Já José Pinto, de 80 anos e sócio número 1526, tem outra visão das mudanças ocorridas. Para este associado, filiado desde a década de 60, "o Belenenses perdeu um pouco da sua alma. Já não se vê aquilo que chamávamos o quarto de hora do Belenenses, onde nesse período a equipa fazia coisas muito bonitas. Mesmo que estivéssemos a perder, conseguíamos dar sempre a volta por cima", recorda.

Mas se a "alma" se perdeu parcialmente, viva está ainda a prática desportiva por parte da juventude. A zona de Belém atrai muitos jovens para praticar desporto, porém, estes não têm muita tendência para apoiar o clube. Apesar de contar com cerca de 20 mil sócios, o Estádio do Restelo apresenta quase sempre uma fraca assistência. É preciso cativar mais público, sobretudo os mais novos. Rui Cardoso, um jovem adepto da claque Fúria Azul, afirma que, para chamar mais pessoas ao estádio, "é necessário que apareçam resultados desportivos, investindo em mais do que um simples lugar no meio da tabela, para assim exaltar os sócios". Rui adianta ainda que "o clube tem vindo a desenvolver algumas campanhas de angariação de sócios, mas só de forma pontual. É importante que estas sejam feitas de uma forma contínua", remata.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt