'Troika' devia ter o seu próprio memorando de entendimento
Segundo o analista, antigo diretor para a Europa do FMI e atualmente economista chefe do "think tank" (grupo de reflexão) "Lisbon Council", a ausência de papéis bem definidos para cada uma das instituições que compõem a "troika" não só tem contribuído para problemas como projeções macroeconómicas erróneas e dificuldades na implementação dos programas e consequentes derrapagens, como têm descredibilizado Bruxelas e o FMI, atualmente em troca de acusações sobre as falhas no primeiro resgate à Grécia.
Além do mais, defendeu hoje Leipold durante uma conferência de imprensa em Bruxelas, por ocasião da apresentação de um documento sobre "as lições de três anos de luta contra a crise na zona euro", ao não haver uma "distribuição formal de papéis" entre as instituições que a compõem, não há responsabilidades principais no seio da 'troika', o que a torna numa entidade "não responsabilizável".
"Sendo todos responsáveis de uma forma difusa, ninguém pode ser apontado como responsável", sustentou, acrescentando que tal leva a episódios de "jogos de culpa", como aquele a que se assistiu na semana passada, com a troca de acusações sobre o que correu mal no primeiro programa de ajuda à Grécia, na sequência da divulgação de um documento do FMI onde se liam diversas críticas aos seus parceiros europeus da 'troika'.
Para o analista, é sem surpresa que este problema de funcionamento da 'troika' ocorre, já que se trata de uma "construção" sem precedentes, erguida numa situação de crise, e as anteriores experiências de financiamento conjunto entre UE e FMI cobriram apenas países de fora da zona euro (Hungria, Letónia e Roménia, em 2008-09), "não comparáveis" aos casos atuais de Grécia, Irlanda, Portugal e Chipre.
"Quando eu liderava missões do FMI, já era complicado gerir uma equipa com elementos de diversos departamentos. Imagine-se então com instituições com diferentes culturas, mandatos e procedimentos", disse.
Segundo Alessandro Leipold, a atual situação de acalmia dos mercados oferece a oportunidade para melhorar a parceria entre as instituições que compõem a 'troika', defendendo o economista que Comissão Europeia, BCE e FMI deveriam "elaborar um entendimento comum sobre o funcionamento da 'troika' que resultasse num memorando de entendimento público ou numa concordata".
Esse memorando, sustentou, deveria definir de forma clara qual o responsável por cada um dos elementos mais importantes dos programas de assistência, tais como as projeções macroeconómicas e as análises de sustentabilidade da dívida, que, defendeu, deveriam ficar a cargo do FMI, já que esta instituição tem melhorado bastante os seus métodos de trabalho nos últimos anos e tem mais experiência e uma visão mais global que a Comissão Europeia.