'Suicídio revolucionário' do apóstolo socialista
Jim Jones. Fundou a sua própria seita para espalhar o socialismo na América, disfarçado de religião. Tudo acabaria em tragédia: 909 membros do Templo do Povo mataram-se há 30 anos na Guiana
Defensor da integração, Jones e a mulher adoptaram criança negra
O Templo do Povo tentou "construir um mundo novo. Tentou e falhou dramaticamente, de forma horrível", contou esta semana Jim Jones Jr., o filho negro adoptado pelo reverendo Jones e a mulher Marceline em 1960, um dos poucos membros da seita americana que sobreviveram ao suicídio colectivo de 18 de Novembro de 1978 em Jonestown, na Guiana.
Na entrevista ao San Francisco Chronicle, o filho do fundador do Templo do Povo relembra esse dia em que não acatou a ordem dada pelo pai para participar no "suicídio revolucionário" de todos os membros da igreja. Jim e dois dos seus irmãos tentaram até convencer as autoridades a evitar a tragédia, mas não conseguiram.
Para cumprir a derradeira ordem do reverendo, 909 membros da seita ingeriram cápsulas de cianeto, entre eles a mulher grávida de Jim Jones Jr. Outros mataram-se como puderam na zona do aeroporto, depois de assassinarem o senador republicano Leo Ryan e quatro outras pessoas, chegadas à Guiana para investigar a suspeita de sequestro de integrantes do Templo do Povo, impedidos de abandonar a seita. Só 33 dos seguidores do reverendo Jones se recusaram a acatar a solução final e sobreviveram para contar a história.
E a história começa a 13 de Maio de 1931 em Creta, uma comunidade rural do estado americano da Indiana, onde nasceu James Warren Jones, filho de um veterano da I Guerra Mundial. Criança estranha, obcecada pela religião e pela morte, foi um leitor precoce de Estaline, Marx, Gandhi (deu o nome do líder indiano a um dos seus filhos), Hitler e mais tarde de Mao Tsé-Tung - cortou com o maoísmo quando o líder chinês se afastou da influência soviética.
Comunista convicto, activo defensor do movimento integracionista nos Estados Unidos (ele e a mulher foram o primeiro casal branco de Indianápolis a adoptar uma criança negra), Jones sofreu as consequências do mccartismo nos anos 50.
Apesar do clima de caça às bruxas, criticou a acção norte-americana na Guerra da Coreia (adoptou três crianças de origem coreana, parte da sua "família arco-íris" que incluía Jim Jones Jr., uma menina descendente de nativos americanos, um menino branco e o único filho biológico) e começou a pensar na melhor forma de difundir as ideias marxistas no seu país.
A religião pareceu-lhe a melhor maneira de alcançar os seus intentos. Marceline Jones admitiu em 1977, numa entrevista ao New York Times, que o marido "usava a religião para tentar arrancar algumas pessoas do ópio da religião".
A partir dos anos 60, no entanto, o discurso do carismático reverendo Jones tornou-se mais apocalíptico - explosões nucleares, fim do mundo, anjos vindos do céu para salvar os justos e castigar os iníquos - e decidiu mudar o Templo do Povo para o Brasil, escolhendo Belo Horizonte para lugar de espera até que o paraíso socialista emergisse da sociedade pós-apocalíptica.
No final dos anos 60, agora na Califórnia, os discursos do reverendo Jones tornaram-se cada vez mais socialistas e menos religiosos. O seu "paraíso socialista" da Guiana, a que chamou Jonestown, começou a ser construído em 1974. "Acredito que somos os comunistas mais puros que existem", dizia nos seus discursos, e o seu suicídio e o dos seus seguidores foi a última grande encenação de pureza revolucionária.