'Spreads' zero ou negativos também têm a sua factura

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Os spreads zero e negativos anunciados para o crédito à habitação não são para todos. É uma "promoção" lançada pela banca para períodos que variam entre os seis meses e os dois anos, mas que dependem de um conjunto de condições, visando aumentar a relação do cliente com o banco, ao mesmo tempo que restringe o leque de consumidores que a ele podem aceder. Ou seja, o que a banca perde, ao abdicar da sua margem financeira durante um determinado período, ganhará em comissões ou noutras receitas, por via da venda de mais produtos a esse cliente. Em suma, não há spreads grátis.

As quatro instituições envolvidas nesta "guerra" - Barclays, Totta e Banco Espírito Santo (BES), com spread zero, e o site créditohabitação.com,com spread negativo - apresentam, cada uma, as suas condições.

À excepção do BES, tanto o Barclays como o Totta fazem um arredondamento da taxa de juro indexante, a Euribor a 3 ou 6 meses, a um quarto de ponto percentual, o que significa que a taxa anual efectiva (com todos os encargos) é actualmente de 4,38%, para o ano de spread zero, no caso do Barclays.

Depois, em todas estas três instituições, o cross selling a suportar, ou seja, o número de produtos e/ou serviços que o cliente precisa de manter com o banco para ter direito a esse spread, é significativo.

No caso do BES, onde apesar de tudo o arrendondamento da taxa de juro é feito a um oitavo de ponto, o cliente necessita de ter, além da domiciliação do vencimento, o seguro de vida e da casa também no banco, um cartão de crédito activo e mais dois produtos de um leque de cinco, à escolha. Entre estes contam-se o seguro do automóvel no BES, um PPR ou seguro de capitalização, um saldo trimestral de recursos superior a mil euros, crédito individual ou carteira de títulos. E a manutenção destes produtos/serviços não é gratuita.

Também no Barclays, o "caderno de encargos" da relação cliente/ban- co obriga a possuir quatro (seguro de vida, seguro multirriscos, domiciliação de vencimento e pagamentos de três serviços básicos), além da adesão a uma "Solução integrada", um pacote de produtos e serviços que, no mínimo, custará quatro euros por mês. O Totta não é excepção, apesar de só exigir três produtos/ serviços de crossselling, de um conjunto de seis.

No caso do spread negativo, disponibilizado através da Internet, pelo site créditohabitação.com, o crédito à habitação em causa destina-se a consumidores que sejam efectivos de uma grande ou média empresa há mais de três anos, cuja taxa de esforço (relação entre serviço da dívida e rendimento mensal) não seja superior a 35%, entre outras condições. Depois, sabe-se que, à partida, pedir um crédito à habitação através da Internet é destinado a um nicho de mercado bastante restrito. Na prática, o produto disponibilizado pela União de Créditos Imobiliários (UCI), pertencente ao Santander e BNP Paribas, traduz-se numa taxa fica de 3,25% durante seis meses.

É possível calcular a taxa de juro com e sem spread zero em cada uma dos sites destas instituições, mas os dados exigidos online por cada uma delas são diferentes, pelo que o melhor será mesmo o cliente interessado dirigir-se a um balcão e expor o seu caso em concreto. As diferenças cobradas entre cada um dos bancos (com margem zero e, depois, com spread normal) variam entre os 49 euros do BES, 37 euros do Totta e 23 do Barclays.

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