'Pravda' demorou a dar notícia do 25 de Abril

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«Tanques nas ruas de Lisboa» foi o título da primeira curta notícia que apareceu na imprensa soviética sobre os acontecimentos da madrugada de 25 de Abril de 1974. A notícia surgiu no vespertino Izvésstia, na página internacional, assinada pelo serviço de imprensa do segundo maior jornal da URSS. Era apenas referida a revolta militar, a criação da Junta de Salvação Nacional e o derrube do Governo de Marcelo Caetano.
O matutino Pravda, o jornal mais importante, só reagiu aos acontecimentos em Portugal no dia seguinte. A notícia era ainda mais pequena que a do Izvésstia, mas foi publicada com um breve comentário anónimo: «O regime apodrecido de Caetano é condenado.»
Só no início de Maio de 1974 a Revolução dos Cravos ganhou protagonismo nos media da União Soviética. O Pravda, órgão do Comité Central do PCUS, cumprindo o seu papel de arma ideológica, interpretou as notícias e publicou comentários. Num dos primeiros comentários assinados, a 29 de Abril, o jornal aplaudia o «fracasso da reaccionária política doméstica e externa do regime apodrecido» e apelava à «independência total» dos territórios ultramarinos de Portugal.
«Esse acto do novo Governo de Portugal seria aceite com grande satisfação pela comunidade internacional e contribuiria para o reforço da paz no mundo», escrevia o Pravda.
O então secretário-geral do PCP, Álvaro Cunhal, aparece citado nas publicações do Pravda como símbolo de resistência. Ao descrever o episódio do regresso do exílio de Cunhal, o Pravda escreveu apenas que o líder comunista foi acolhido no aeroporto de Lisboa por «milhares de trabalhadores».
Para o leitor do Pravda daqueles dias, todos os líderes políticos da esquerda ou presidentes dos países amigos da URSS diziam as mesmas coisas em palavras iguais e apareciam em fotos retocadas.

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