'O Código Da Vinci' abre hoje Cannes

O filme de Ron Howard com Tom Hanks e Audrey Tautou, adaptando o romance de Dan Brown, tem a sua estreia mundial hoje na Croisette. Mas é só uma parcela ínfima do que o mais descomunal e multiforme festival de cinema do mundo tem para oferecer até ao dia 28
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\t\tA novíssima linha de comboio Londres- Cannes foi ontem inaugurada com uma série de passageiros ilustres (ver pág. 47). Nada mais, nada menos do que a equipa de O Código Da Vinci, filme que abre hoje, em antestreia mundial, fora de competição, o 59.º Festival de Cannes (encerra dia 28). No comboio veio também o próprio Dan Brown, para subir a escadaria do Palácio dos Festivais ao lado de Tom Hanks, Audrey Tautou, Jean Reno e Ron Howard, e talvez para participar na que será uma das mais concorridas conferências de imprensa dos últimos anos.
Tendo em conta que Cannes é o mais descomunal, estarrecedor e multiforme festival de cinema do mundo, o frisson colectivo causado por O Código Da Vinci não durará mais do que um ou dois dias, e rapidamente será esquecido quando o poderoso comboio de luxo da Selecção Oficial se puser em marcha.


Lá se encontram, este ano, e por exemplo, Pedro Almodóvar e Volver, o regresso do realizador à Mancha natal, às mulheres da sua infância e a Carmen Maura; Marie-Antoinette, a aposta histórico-biográfica de Sofia Coppola, com Kirsten Dunst e música dos New Order ou Adam and the Ants; Southland Tales, a "fantasia musical" de Richard Kelly (Donnie Darko); Il Caimano, o filme anti-Berlusconi de Nanni Moretti; Babel, de Alejandro González Iñarritu, com Brad Pitt e Cate Blanchett, devidamente fracturado, como o realizador mexicano gosta; Les Lumières du Faubourg, fim da "trilogia da solidão" de Aki Kaurismaki; Flandres, a nova bizarria do telhudo Bruno Dumont; Iklimer, do meditativo e notável turco Nuri Bilge Ceylan; Juventude em Marcha, o regresso de Pedro Costa às Fontainhas (ver página seguinte) e ainda os novos filmes de nomes como Ken Loach, Lucas Belvaux ou Guillermo Del Toro, entre outros.


Thierry Frémaux, director artístico do festival , disse que a competição de Cannes , este ano, "não vai oferecer uma visão sombria ou desesperada do mundo". Sombria ou não, pouco importa, o que interessa é que haja muita coisa boa. Os filmes fora de competição, por exemplo, davam para fazer outro festival , entre United 93, de Paul Greengrass, Election 2, de Johnnie To, Nouvelle Chance, de Anne Fontaine, o documentário Sketches of Frank Gehry, de Sydney Pollack, ou X-Men - The Last Stand, de Brett Ratner.


Este ano, a secção paralela Un Certain Regard abre com um filme "ecuménico": Paris, je t'aime, em que 20 realizadores de todo o mundo - Alexander Payne, Walter Salles, Gus Van Sant, Olivier Assayas, Noburo Suwa, irmãos Coen, Alfonso Cuarón, Sylvain Chomet, etc. - dedicam cinco minutos cada a um bairro de Paris. Entre os intérpretes, Ben Gazzara, Sergio Castellito, Fanny Ardant, Elijah Wood, Bob Hoskins, Leonor Waltling, Willem Dafoe, etc. Talhado à medida para um festival como Cannes , que opera o prodígio de concentrar o povo do cinema em 12 dias intensos, num espaço limitado.


Quando, no próximo dia 28, tiverem passado todos os filmes da Selecção Oficial, da Un Certain Regard, da Semana da Crítica, da Quinzena dos Realizadores, da Cinéfondation e de Cannes Classic, já ninguém se lembrará sequer de quem é esse tal Da Vinci.


Os júris dos prémios e as três lições especializadas


A Palma de Ouro é atribuída este ano pelos realizadores Wong Kar Wai (Hong Kong, presidente do júri), Patrice Leconte (França) e Elia Suleiman (Palestina), pela realizadora Lucrecia Martel (Argentina), pelas actrizes Monica Belluci (Itália), Helena Bonham Carter (Grã-Bretanha) e Zhang Ziyi (China) e pelos actores Samuel L. Jackson (EUA) e Tim Roth (Grã-Bretanha). O júri da secção paralela Un Certain Regard tem o realizador norte-americano Monte Hellman como presidente. O da Cinéfondation, que julga as obras das escolas de cinema, tem à frente o cineasta russo Andrei Konchalovski. O da Câmara de Ouro, que premeia o primeiro melhor filme de todo o festival , é tutelado pelos irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne, Palma de Ouro em 2005 com A Criança.


A Lição de Interpretação está este ano a cargo da actriz Gena Rowlands (EUA). A Lição de Cinema será dada pelo realizador norte-americano Sydney Pollack. Quanto à Lição de Música, está a cargo do compositor francês Alexandre Desplat, "em diálogo" com o seu compatriota e realizador Patrice Leconte, membro do júri oficial.

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