'Nosotros' pimba
Havia uma grande canção (Flagrante, de António Zambujo), duas ou três canções pelo menos vagamente interessantes (entre as quais, talvez, That's How We Roll, de Richie Campbell), uma série de canções más ou muito más e uma canção verdadeiramente indizível. Chamados a votar, os portugueses que tiveram a bonomia de assistir a A Canção do Ano 2012, emitido sábado à noite na RTP, e depois de votar através de chamadas de valor acrescentado, fizeram o que se esperava: deram o prémio (?) à canção indizível.
Para a estação pública portuguesa de televisão, portanto, a melhor canção portuguesa do ano que agora findou chama-se Baby, És Uma Bomba e reza assim: "Love me baby nanananananananana/ Love me baby nanananananananana/ Love me baby nanananananananana/ Love me baby nanananananananana/ Es una bomba/ Es una bomba/ Inspiras mi vida/ Di amor y paisón." E o balanço do programa tem necessariamente de ser esse, apesar dos esforços da produção para colorir a emissão, incluindo entrevistas de circunstância a famosos e a populares, e do aparente incómodo de pelo menos alguns dos quatro "comentadores" (Álvaro Costa, Ana Galvão, David Ferreira e Fernando Martins) para com a previsibilidade da escolha.
Felizmente para quem se preocupa com o futuro da RTP, a loucura não rendeu mais do que 490 mil espectadores, cerca de dez por cento dos portugueses que àquela hora viam televisão. Infelizmente para quem pensa que para o ano poderá fazer igual sem que, mais uma vez, alguém se dê conta do desperdício de meios públicos que, com ou sem contenção, ainda se pratica na Gomes da Costa, alguns fazem questão de deixar essa pobreza bem registada. Este é o meu contributo.