'Mira' Markovic: 'Lady Macbeth dos Balcãs'
Mirjana Markovic deseja ver o marido Slobodan Milosevic ser sepultado em Pozarevac, uma pequena cidade a Leste de Belgrado, em que ambos nasceram e começaram a namorar ainda adolescentes.
Entre a vontade de "Mira" e a realidade existe, porém, um mandado de captura da Interpol que a justiça sérvia decidiu suspender apenas para o funeral, que em princípio deve realizar-se na capital sérvia.
Foi precisamente este mandato de captura, emitido em 2003 depois de Mirjana ter abandonado a Sérvia, antes do início de um julgamento em que era acusada de abuso de poder e sonegação de fundos estatais, que a impediu de ir visitar o marido a Haia nos últimos três anos.
A transferência do antigo presidente da Jugoslávia para o TPI constituiu, aliás, a única verdadeira separação de "Mira" e "Slobo" desde o seu casamento em 1964. Apesar de Milosevic ter sido preso em Abril de 2001, a mãe dos seus dois filhos visitava-o diariamente na prisão de Belgrado, até ser extraditado dois meses depois para a cidade holandesa.
Mirjana, que além da alcunha "Mira" (herdada da mãe) também foi apelidada de "Bruxa Vermelha" ou "Lady Macbeth dos Balcãs", manteve-se sempre ao lado de Milosevic, desde o dia em que o conheceu. Foi numa festa de passagem de ano, organizada pela juventude comunista, em 1958. Ele tinha 17 anos. Ela 16.
Era ambiciosa e sempre teve a política a correr-lhe nas veias. Alguns asseguram que esteve por detrás de muitas decisões de Milosevic. "Nenhuma mulher na história sérvia gozou de tanta influência como 'Mira' Markovic", afirmou há poucos anos o jornalista Slavoljub Djukic, autor de quatro livros sobre Milosevic.
A CIA, por seu lado, descrevia Mirjana como "a mãe substituta", pois ambos os pais de "Slobo" cometeram suicídio. Mas a história de "Mira" não é menos trágica. A "Bruxa Vermelha", que em 1995 liderou o Partido da Esquerda Jugoslava e foi eleita deputada por Pozarevac, ficou órfã de mãe com apenas oito meses e só conheceu o pai aos 15 anos.
A morte da mãe, Vera Miletic ("Mira"), militante anti-Nazi presa e torturada pela Gestapo, continua até hoje pouco clara porque quando Milosevic chegou ao poder os documentos sobre o assunto desapareceram. A versão mais credível diz que seria informadora e teria sido morta por próximos do pai de Mirjana, Milomir Markovic ("Moma"), o que explica o reconhecimento tardio.
Mirjana, hoje com 63 anos, foi criada na infância pela tia, Davorjanka Paunovic, secretária e amante do marechal Tito. Tem dois filhos de Milosevic: Marko (que vive com ela na Rússia) e Marija (que quando o pai foi preso em 2001 correu atrás dele disparando tiros e dizendo "Cobarde. Suicida-te! Suicida-te!".