'Mensalão' pode custar mandato a 15 deputados

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Quinze deputados. Esse é, por enquanto, o número de parlamentares que podem perder os seus mandatos em consequência da investigação ao escândalo do "mensalão" na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios. Criada para investigar denúncias de suborno contra o ex-director dos Correios e Telégrafos, Luiz Marinho, a CPI ampliou a investigação a um escândalo de corrupção envolvendo o Governo, o PT e os demais partidos da base aliada do Presidente Lula da Silva.

Inicialmente denunciado como o mentor do esquema de corrupção nos Correios, o deputado Roberto Jefferson, do PTB, passou a denunciante, ao revelar a existência de um esquema de pagamento a grupos políticos em troca do apoio ao Governo. As denúncias de Jefferson provocaram estragos na equipa de Lula. Mas as primeiras conclusões da CPI mostram que não foram suficientes para livrar Jefferson das suas responsabilidades.

Com base no apurado, a CPI dos Correios vai indicar uma lista de deputados que deveriam perder os seus mandatos. Quem encabeça a lista é o próprio Roberto Jefferson que o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio, do PMDB, deixa claro que considera como líder do esquema de corrupção nos Correios. Era o que dizia Luiz Marinho, apanhado por uma câmara de vídeo escondida a receber um suborno; dizia Marinho que os subornos que recebia alimentavam um caixa de corrupção do PTB, então presidido por Jefferson. Os elementos colhidos pela CPI corroboram essa tese.

ofensiva. Ainda contra Jefferson, deve mover-se esta semana Marcos Valério de Souza. O publicitário volta a depor na CPI do "mensalão". Ele adiantou, na edição de ontem do Correio Braziliense, que investirá contra Jefferson, contando que, na viagem que fez a Portugal com o tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, este se queixou da pressão que sofria de Roberto Jefferson para que extorquisse dinheiro do PT. Nesse depoimento, Valério deverá, afinal, esclarecer o que o levou a viajar quatro vezes a Lisboa em busca de encontros com representantes da Portugal Telecom e do Banco Espírito Santo. O publicitário deve dizer que viajou em busca de fechar contratos de publicidade. E que nem sempre teve sucesso.

Se não escapa de ter seu mandato ameaçado, Jefferson, porém, foi capaz de, nas suas denúncias, acrescentar à lista de possíveis implicados alguns dos principais nomes do PT. A começar pelo ex-ministro da Casa Civil deputado José Dirceu (PT-SP). Um organograma montado pela CPI das conexões entre os factos apurados coloca Dirceu no centro de quase tudo o que se apurou. Seja por conta da sua posição de segundo homem mais poderoso da República quando no Governo, seja pelo facto de que, nessa época, continuar a dirigir o PT. Passam por ele tanto as investigações que dizem respeito ao Governo como as que respeitam ao partido. A descoberta, na sua agenda de compromissos privados na Casa Civil, de reuniões com o ex-tesoureiro Delúbio Soares e com o ex-secretário-geral Sílvio Pereira reforçam a tese do vínculo partidário. E a presença, na mesma agenda, de reuniões com o publicitário Valério de Souza e com empresas e pessoas com as quais ele tinha relações em seus negócios - casos, por exemplo, da Portugal Telecom e do Banco Espírito Santo - reforçam os indícios do vínculo com o suposto "mensalão". Agrava a situação de Dirceu o facto dele ter omitido - ou não ter sido claro quanto a esses encontros.

gastos. Embora a crise contribua para pôr em risco a popularidade de Lula, por enquanto ainda não há nada a comprovar o seu envolvimento directo com o "mensalão". A oposição argumenta que seria impossível ao Presidente não saber de algo dessa magnitude; mas provas concretas de envolvimento, não há. Em busca de desfazer essas suspeitas, Lula teria, escreve a Folha de S. Paulo na edição de ontem, solicitado à Agência Brasileira de Inteligência e à Polícia Federal que vasculhassem suas operações financeiras e gastos para comprovar que não existe ligação entre ele e o "mensalão". Desde o início, a oposição trabalha com a suspeita de que gastos do Presidente e de sua família poderiam ter sido pagos pelo esquema. Seria o ponto a possibilitar a abertura de um processo de destituição. Como ocorreu na investigação contra o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Collor perdeu o mandato após a descoberta de que um "fantasma" (uma pessoa inexistente, criada para movimentar uma conta bancária no esquema) comprara para ele presidente um automóvel.

No caso de Lula, a desconfiança da oposição recai principalmente sobre os gastos do Presidente com cartões de crédito corporativos. Esses cartões destinam-se ao pagamento de despesas em viagem, com deslocamento e hospedagem.

Por razões de segurança, o Palácio do Planalto recusa-se a discriminar os gastos. Os altos valores despendidos, porém, despertam a curiosidade da oposição. Entre 2003 e 2004, os altos funcionários da Presidência da República que têm direito a cartão corporativo gastaram 12 milhões de reais (cerca de quatro milhões de euros). Apenas um deles - não se pode dizer que seja o Presidente - gastou 1,2 milhões de reais só em 2003.

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