No nosso país, foi representada na íntegra, e em português, uma única vez. Estávamos no ano de 1955 e o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) levava à cena , com encenação de Paulo Quintela, o texto traduzido por Maria Helena da Rocha Pereira. .Passados 51 anos, a tragédia Medeia, de Eurípides, volta a subir a um palco português. Desta vez, o do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. A estreia está marcada para esta noite, pelas 21.30, na Sala Garrett..Considerada a obra maior do dramaturgo grego, "o mais trágico dos poetas", nas palavras de Aristóteles, e com uma tradução inédita da falecida escritora Sophia de Melo Breyner Andresen, Medeia conta com encenação de Fernanda Lapa e marca o regresso aos palcos da actriz Manuela de Freitas (ver caixa). .Do elenco fazem também parte João Grosso (Jasão), José Neves (Egeu), António Rama (Creonte), Luísa Cruz, Inês Nogueira, Margarida Mestre, Marta Lapa, Sara Carinhas, Sofia Petinga, Sónia Neves.. Fernanda Lapa, para além de encenadora, integra também o elenco da peça no papel de Mensageiro, que não é propriamente uma personagem, mas antes , como a própria explica, "uma voz, um narrador que conta as coisas terríveis" que acontecem fora de cena. .Esta tragédia, que foi representada pela primeira vez em 431 a.C , narra o terrível percurso de Medeia, a princesa da Cólquida (actualmente a Geórgia) que, por amor, traiu a sua família e o seu país ao entregar a Jasão, herói grego comandante dos Argonautas, o Velo de Ouro (símbolo de riqueza e poder). .Apaixonada por Jasão, Medeia segue-o até à Grécia e, como sua esposa, submete-se, durante dez anos, às suas vontades e às leis de um país que não é o seu. Um dia Jasão trai os juramentos do casamento e repudia-a para casar com a filha de Creonte, rei de Corinto. É nesse momento que se inicia o destino trágico e sem retorno de Medeia. .Expulsa da Grécia com os seus dois filhos, por ordem de Creonte, que receia pela segurança da sua filha e do seu trono, e reduzida à condição de apátrida, Medeia jura vingança e, no limite da sua ira, não olha a meios para destruir Jasão. Matando Creonte e a sua filha destrói a casa real e assassinando os seus filhos e de Jasão arruina a imagem do herói grego, que, deste modo, fica sem descendência. .No fim da peça, cuja acção decorre em Corinto, "Deus só nos deixa o espanto". É que, mesmo depois do monstruoso crime que cometeu, Medeia consegue escapar impune. O seu único castigo é o sofrimento por ter matado "aqueles que mais amava", realça a encenadora..Sendo um dos mais importantes clássicos da tragédia grega, Medeia tem também, na opinião daquela , um forte carácter contemporâneo, pois "fala de um povo, do social e sobretudo da essência do ser humano". "Eurípides não nos dá lições de moral", afirma Fernanda Lapa, mas faz--nos ver que "do ser humano que é levado ao limite do seu sofrimento não se pode esperar uma resposta justa, mas violências ainda maiores"..Com o requinte da cenografia e a elegância dos figurinos de António Lagarto, e ao som de música original de João Lucas, Medeia vai estar em cena na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II até ao próximo dia 11 de Junho.