'Mea culpa' de Pedro Neves um ano depois do 'doping'

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Pedro Paulo Pinheiro Neves é um jovem como outro qualquer, que adora Porsches, ir ao cinema, de Nicole Kidman e Denzel Washington. E de jogar à bola. Saiu uma noite com os amigos e "num acto irreflectido e estúpido" experimentou "um fio" do cocaína, uma droga que contém benzoilecgonina, uma substância proibida, embora não aumente o rendimento desportivo.

Qual maçã-de-adão, um acto tão comum hoje em dia, não fosse o facto de este jovem de 23 anos ser jogador profissional de futebol, com um futuro promissor e chamadas regulares à selecção nacional de sub-21. Poucos dias depois, Pedro seria sorteado para ir ao controlo antidoping, na sétima jornada da Superliga 2003/04, num jogo entre o Alverca e o Sp. Braga. O resultado seria conhecido algum tempo depois... Positivo.

Depois da angústia da espera pelo castigo, Pedro soube, finalmente, que ficaria suspenso da competição desportiva por seis longos meses. "Pensei que o mundo ia desabar nas minhas costas, andava de cabeça perdida, sabia que no final de cada semana o meu nome não iria estar na lista de convocados." Pior que isso, perdeu todas as esperanças de ir ao Campeonato da Europa de sub-21, onde Portugal conseguiu o terceiro lugar.

Durante os meses de suspensão, continuou a treinar, com empenho, garante, mas sem motivação, pois "não era um questão de desleixo, mas sabia que não ia jogar durante mais de metade da época e isso deixava-me de cabeça perdida". Treino, após treino, sessão, atrás de sessão, apenas com a garantia de no fim do castigo poder voltar a jogar futebol, "porque o Alverca sempre me apoiou". Com um sorriso tímido, agradece o poio de José Couceiro - "que sempre me disse para manter a calma" - e do presidente do clube ribatejano, para quem "o jogador não cometeu nenhum crime de morte". Pedro Neves recorda também o apoio da família.

Sempre consciente do erro que cometeu, fez o mea culpa vezes sem conta. "A culpa foi minha e de mais ninguém. Não adianta procurar desculpas nem tentar disfarçar um acto irreflectido com más companhias", e diz que nunca se sentiu "discriminado por nenhum colega. Por eles consegui superar isso. No fundo, penso que compreenderam que era jovem, cometi um erro, um acto estúpido e pouco profissional, mas felizmente superei isso". Uma experiência "aterradora", que o "ajudou a crescer como homem e a permitir distinguir os verdadeiros amigos; no futebol há mais conhecidos que amigos".

Os seis meses mais pareceram seis anos. O que foi pior? "Não poder jogar futebol e saber que o episódio do doping pode ter afastado o interesse de alguns clubes, sei que tinha condições para ter saído". O renascer para o futebol aconteceu no início desta época e como forma de incentivo e reconhecimento, o plantel ribatejano deu-lhe a braçadeira de capitão "Uns entendem, outros não, mas num grupo há sempre divergências de opinião, isso até é saudável".

A rotina de treinar e não jogar ficou para trás, agora o trabalho passou a ser compensado com a presença na lista de convocados. A lateral, a central ou a trinco, tanto faz. Depois de meio ano sem jogar, qualquer posição é bem-vinda, mas prefere jogar a médio porque gosta de participar na criação de jogo. Mas explica que "um jogador tem de se sentir bem na sua posição, quando não joga onde gosta, as coisas não correm tão bem, pode haver um jogo que sim mas há sempre três ou quatro que não", mesmo sabendo que foi o desempenho no lado esquerdo da defesa que levara Agostinho Oliveira a chamá-lo à selecção nacional de sub-21 (ver peça abaixo).

Esta época, o Alverca está em último lugar da Liga de Honra, e "vai ser muito difícil subir, mas espero que suba rapidamente. A nível pessoal só quero fazer uma época regular para ter oportunidade de sair." A simpatia pelo Sporting vem das camadas jovens de Alvalade, mas sonha voltar a vestir a camisola das quinas - "cantar o hino é fantástico".

E porque sonhar é possível, o melhor que lhe podia acontecer era jogar na Premier League (Inglaterra), mas para já Pedro Neves actua na Liga de Honra e a Superliga é a meta a curto prazo...

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