'Jihadistas' acusados de usar gás mostarda

Peritos da Organização Internacional para a Proibição de Armas Químicas concluíram que o gás letal foi utilizado num ataque em agosto. ONU confirma ataques
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Militantes sírios acusaram hoje o grupo extremista Estado Islâmico de ter usado um gás letal no norte da Síria no verão passado, depois de a agência internacional de armas químicas ter confirmado o uso de gás mostarda.

Peritos da Organização Internacional para a Proibição de Armas Químicas concluíram que foi utilizado gás mostarda a 21 de agosto em Marea, uma localidade síria próxima da fronteira com a Turquia, mas não atribuíram o ataque.

"Estabelecemos os factos mas não determinámos quem foi responsável", disse uma fonte da organização à agência France Presse.

O diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, Rami Abdel Rahman, assegurou no entanto à France Presse que foi o Estado Islâmico o responsável pela utilização daquele gás em Marea.

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A agência contactou igualmente um jornalista pró-rebeldes que estava em Marea na altura do ataque, Mamoun al-Khatib, segundo quem se tornou claro logo na altura que a responsabilidade era do grupo 'jihadista' porque "todos os projéteis eram disparados do leste de Marea e essa zona estava completamente nas mãos do Estado Islâmico".

O ataque ocorreu numa altura em que o Estado Islâmico tentava há meses tomar o controlo de Marea, considerado o principal ponto de concentração de rebeldes e de armas na província de Alepo (norte).

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que na altura afirmou ter tratado quatro civis da mesma família com sintomas de exposição a agentes químicos, disse não estar em condições de identificar os responsáveis.

"A MSF não comenta porque não dispõe de provas absolutas da identidade dos autores", disse à France Presse uma porta-voz da organização, Yazan al-Saadi.

Quanto à origem do gás mostarda, o diretor do Observatório considerou que ele era proveniente "provavelmente da Turquia ou do Iraque".

Um militante da oposição ao regime sírio, Nazir al-Khatib, afirmou que ou o Estado Islâmico tem nas suas fileiras "peritos (formados durante o regime) de Saddam Hussein que o ajudou a obter esses produtos" químicos ou "obteve-os nos depósitos de armas do regime em Palmira", cidade do centro do país controlada pelos 'jihadistas'.

Depois de um ataque com agentes químicos que matou centenas de pessoas numa região a leste de Damasco em agosto de 2013, o regime sírio aceitou destruiu todo o seu arsenal químico ao abrigo do acordo assinado entre os Estados Unidos e a Rússia em setembro de 2013 para evitar bombardeamentos aéreos por países ocidentais.

Peritos da ONU confirmam ataques

A agência da ONU que controla o uso de armas químicas confirmou hoje com "elevada certeza" o uso de gás mostarda em agosto na Síria e o "provável uso" de cloro em março.

As conclusões constam dos relatórios intercalares das três missões de investigação enviadas à Síria pela Organização Internacional para a Proibição de Armas Químicas, hoje enviados pelo diretor-geral da agência, Ahmet Uzumcu, aos 192 Estados membros.

"A equipa pôde confirmar com a máxima confiança que pelo menos duas pessoas foram expostas a gás mostarda e que é muito provável que os efeitos dessa arma química tenham provocado a morte de um bebé", lê-se num comunicado da agência sobre a missão enviada a Marea, perto da fronteira com a Turquia, para investigar um ataque ocorrido a 21 de agosto.

Em Idleb (noroeste), uma equipa enviada para investigar alegações de um ataque químico em março de 2015, uma outra equipa da agência concluiu que "os incidentes envolveram provavelmente o uso de um ou mais agentes químicos tóxicos -- incluindo cloro -- como armas".

A agência da ONU investigou ainda uma informação dada pelo regime sobre a alegada exposição de soldados sírios a agentes químicos em Jobar (arredores de Damasco) em agosto, mas a investigação "não permitiu determinar com confiança que foram usadas armas químicas".

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