Nunca tal havia acontecido: um erro do Vaticano levou a que na passada terça-feira a edição do Osservatore Romano fosse suspensa e que as cópias já impressas fossem destruídas. Motivo: o diário oficial do Vaticano continha um discurso do papa aos bispos suíços que Bento XVI não pronunciara nem queria pronunciar..Não houve maquinações nem sabotagens, mas o que aconteceu conduzirá muito provavelmente a uma mudança na gestão da comunicação da Santa Sé. Tanto mais que o suposto discurso - que acabou por chegar às agências noticiosas e foi publicado pelo DN na edição de quarta-feira - era polémico e pedia a unanimidade dos bispos em todas as questões morais. Só que esse discurso fora inicialmente preparado para ser lido por João Paulo II, em 2005, num outro encontro com os bispos suíços que não chegou a acontecer..Como aconteceu o erro? Segundo o protocolo do Vaticano, o discurso que fora preparado para João Paulo II, embora numa versão reduzida e modificada, havia sido entregue nos aposentos privados do Papa três dias antes do encontro no Vaticano. É frequente que sobre estes textos, fruto de um trabalho de equipa, o Papa apresente correcções, integre algumas ideias e elimine outras. O silêncio do Papa teria sido interpretado, segundo fontes da secretaria de Estado que pedem o anonimato, como uma aprovação do texto..Só que, na realidade, Bento XVI não queria utilizar um discurso de João Paulo II como seu, ainda que modificado, e pretendia mesmo acrescentar novos temas. Assim aconteceu quando, na homilia da missa com os bispos suíços, improvisou um discurso sem ler aquele que estava preparado. Uma decisão que o Papa inclusivamente sublinhou na troca de cumprimentos no final da missa, afirmando "não ter preparado um texto". Assim sendo, a reprodução do seu discurso jamais poderia ter sido imediatamente disponibilizada aos media, porque segundo as regras do Vaticano os discursos espontâneos são sempre revistos antes da publicação. Simplesmente, alguém cometeu um erro, e o texto que Bento XVI recusara ler aos bispos suíços foi automaticamente enviado, como é costume, para a redacção do Osservatore Romano e para a sala de imprensa do Vaticano..Quando Joseph Ratzinger soube que o discurso publicado não era o seu, contactou pessoalmente com a secretaria de Estado e exigiu que o "discurso não pronunciado" fosse imediatamente retirado. Mas, pelas 17.30, já a sala de imprensa tinha feito eco do discurso pelo mundo fora..No quarta-feira, uma nova edição do Osservatore Romano, com a mesma data da eliminada, foi distribuída juntamente com a edição do dia, já com as palavras certas de Bento XVI.