'Espremer' as borbulhas com tratamento médico

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Acne. Os adolescentes são o seu alvo mais atingido. Doença inflamatória crónica, hoje é tratável com medicamentos. Alguns jovens são indiferentes às borbulhas, outros importam-se em excesso. Dialogar com os pais e com o médico é essencial para não ser 'espremido' pela acne

Acne pode ser combatida com medicamentos

"Não espremam!" Este é o conselho de Paula Costa, 16 anos, para os adolescentes que estão na fase de lidar com as borbulhas. "Espremer piora a acne, pode fazê-la aumentar e, o pior, pode deixar marcas", explica. As primeiras borbulhas de Paula surgiram aos 12 anos, tomaram conta do seu rosto e do peito. Optou por procurar o dermatologista e iniciou um tratamento que incluía produtos tópicos, aplicáveis na pele, e antibióticos orais. "É importante seguir o tratamento, com ele consegui controlar a acne", sublinha Paula.

Os íntimos chamam-lhes "borbulhas". Provocam alcunhas como "bexigoso", "queijo suíço" e "cara em obras". Acne de nome próprio, é uma doença que atinge predominantemente os adolescentes. Parte da culpa vai para as hormonas características desta fase, pois o estrogénio e a testosterona provocam o aumento do sebo. Quando as unidades pilossebáceas (localizadas principalmente no rosto, peito, costas e braços) não são capazes de eliminá- -lo, surge a acne. O comedão fechado é de cor branca e o comedão aberto é preto devido à presença de melanina. Quando a borbulha é alta, rugosa, vermelha e tem pus, diz-se que é papulapustulosa. A vilã neste caso é a Propionibacterium acnes, que se multiplicou e provocou inflamações.

André e Sónia dizem pouco ligar à acne e garantem que jamais deixaram de sair de casa devido a uma borbulha. Sabem que espremer piora a situação e deixa marcas, mas por vezes dizem ser "irresistível". O único cuidado de ambos é aplicar um creme vendido nas farmácias e supermercados (atestam eles próprios que não resulta).

"Eu nunca senti qualquer tipo de preconceito por parte dos colegas da escola, dos amigos ou familiares, não dou muito valor à aparência, mas incomoda-me", diz André Tomé, 14 anos, com o rosto tomado pela acne.

"Não deixo de ir a uma festa devido às borbulhas. Alimento--me e uso maquilhagem com normalidade. Lavo o rosto, mantenho-o hidratado e não ligo ao que os outros possam pensar da minha aparência", afirma Sónia Andorinha, de 16 anos.

"A acne é uma doença crónica porque persiste durante a adolescência, por volta de oito anos. É importante que seja tratada e controlada com medicamentos. Não há estudos a evidenciar que a carne de porco e o chocolate aumentem a acne. Apanhar sol e aplicar pasta de dentes agravam a doença. É preciso cuidado com os mitos", explica o dermatologista Rui Bello Tavares.

Bruno Melro tem 14 anos e é baterista da MGBand, que toca José Cid e Rádio Macau. Tem olhos azuis, cabelos louros e várias borbulhas. Diz que elas causam comichão e podem doer quando estão a crescer. "Eu não me importo muito. Mas as raparigas já me disseram para eu cuidar disso. Eu sei que vai passar, que é da idade", diz com desinteresse.

"A acne pode ser um problema para os adolescentes, pois a sociedade é muito exigente em relação à imagem. Os que têm a doença podem partilhar a dificuldade entre si, é um modo de aliviar a tensão e aprender a lidar com a situação. Sugiro aos jovens com acne que valorizem outros aspectos da sua personalidade", aponta o psicólogo Samuel Branco.

"Já orientei pacientes a procurarem ajuda psicológica ou mesmo psiquiátrica. O médico deve estar atento ao paciente, por vezes é preciso associar ao tratamento da acne medicamentos que combatam a depressão", orienta Jorge Cardoso, da Sociedade Portuguesa de Dermatologistas e Venereologia e médico no Hospital Curry Cabral.

Não desvalorizar a atenção ou o descaso dos adolescentes para com a acne é responsabilidade dos pais, na opinião do dermatologista Rui Tavares-Bello. "Muitos pais não dão atenção ao problema, porque na sua época não havia tratamento. Outros sobrevalorizam- -no e pressionam em excesso os jovens. Já atendi pacientes com duas borbulhas que não saem de casa e outros com o rosto tomado pela acne e que não dão qualquer importância. É preciso cumplicidade entre pais e filhos e médico e paciente", observa o dermatologista Rui Tavares-Bello.

A "perfeição" exigida pelos tempos modernos e exibida nos anúncios publicitários modifica e inverte os valores, na opinião do psicólogo Samuel Branco. "Uma ideia de perfeição é ilusória, vivemos numa época de transição de valores. Os pais devem estar atentos para os aspectos emocionais dos adolescentes e conversar sobre todos os assuntos inerentes às tranformações físicas e culturais dos jovens, inclusive a acne", pontua o especialista.

Para combater o desconhecimento sobre a acne, a Portuguese Acne Advisory Board (PAAB) realiza a campanha "Guerra às Borbulhas". O laboratório, especializado em dermatologia, vai visitar as escolas secundárias para informar sobre as características, como evitar e tratar a doença, patologia que atinge 80% dos adolescentes em todo o mundo.

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