'Em vez de fazermos 1 queijo de cada vez, fazemos 98'
De Castelo Branco a Montemuro, com passagem por Algés, o percurso do Grupo Santiago está quase a dobrar o meio século de existência. Um trajecto que se imprime a verde nas embalagens transparentes que encerram o produto que há quatro gerações esta família coloca no mercado: queijos frescos.
"Os avós dos meus avós já faziam queijo, na Beira Baixa", conta José Alexandre Santiago, puxando dos pergaminhos da tradição familiar, ao sentar-se no escritório da filha, Filipa, responsável pela área financeira. O fabrico de queijo surgiu como uma extensão natural da lavoura a que a família se dedicava. Mas, "não dava mexa para a caixa", refere.
Daí aos trinta milhões de euros facturados em 2010, várias encruzilhadas foram dobradas em direcção à fábrica e às empresas de transporte e de comercialização do Grupo Santiago que emprega mais de 300 pessoas. E se Filipa Santiago atribui "à visão empresarial" do pai o passo decisivo para o crescimento da empresa, José Alexandre concretiza alguns dos passos dados.
A vinda para Lisboa de um dos doze tios de José Alexandre foi o primeiro. "O meu pai achou que o futuro dele não estava na lavoura e arranjou-lhe trabalho na CP", recorda. O novo horário deixava-lhe tempo livre e o tio lembrou-se de pedir ao irmão que lhe enviasse queijos e manteiga da terra, pelo comboio, que ele trataria de os vender em Lisboa nas horas vagas de que dispunha.
A ideia revelou-se certeira e o pai de José Alexandre, sem o apoio do filho devido à sua ida para a tropa, optou por se juntar ao irmão, em Lisboa, onde recebiam os queijos de outros produtores da região e os vendiam. "Quando voltei da tropa o meu pai e o meu tio decidiram dividir a cidade em duas zonas (oriental e ocidental)", explica.
A falta de condições em que os queijos eram transportados nos vagões fez nascer a primeira fábrica da família, em Algés. E foi daí que, entre 1968 e 1995, saíram os queijos frescos e curados Santiago, primeiro feitos apenas com leite de ovelha (porque a UCAL tinha o monopólio do leite de vaca). Quando em 1994 foi alertado pelo IFADAP que teria até 1999 para deslocalizar a fábrica, que se encontrava em perímetro urbano, José Alexandre Santiago teve de optar: "Investir numa fábrica para trabalhar os oito a dez mil litros de leite que passavam diariamente pela fábrica de Algés não valia a pena." A solução foi comprar um dos concorrentes, a JD, em Montemuro, a que se seguiu a Lidador e a Campainha.
O método mantém-se o mesmo, "mas agora já nem tocamos com as mãos no queijo", conta Filipa - logo ela que a avó garantia ter as melhores mãos da família para fazer queijo. E dos 40 a 50 mil litros que em média passam diariamente pela fábrica, para uma produção de 800 mil a um milhão de queijos frescos por semana, nem uma gota se vê, num processo de trabalho "idealizado pelo meu pai", salienta Filipa. O espírito prático de José Alexandre explica o que o norteou: "Em vez de fazermos um queijo de cada vez, fazemos 98." A crise não lhes está a passar ao lado, revela Filipa, "mas já passámos por outros momentos de crise e foi sempre nessas alturas que crescemos". Confiança que se esmorece um pouco ao referir que " a mentalidade agora é outra: o queijo fresco tornou-se um pouco um produto de luxo, apesar de não o ser." E justifica: "Com uma sopa, pão e um queijo médio acaba por ser um bom jantar: não nos enche demasiado e ficamos com todas as proteínas e vitaminas que necessitamos."
Fazendo questão de serem eles próprios os responsáveis pelo transporte dos seus queijos - "é um produto muito sensível, não pode haver quebras de frio nem pode chegar com mau aspecto ao cliente final" -, o grupo Santiago iniciou já uma nova rota: a internacionalização apesar de reconhecerem que este é um caminho difícil de vencer."