'Colegas' abre porta a atores com síndrome de Down

O realizador brasileiro Marcelo Galvão diz que "Colegas" abriu uma porta para os atores com síndrome de Down, que são os principais protagonistas do filme, que será exibido hoje, em Lisboa, no âmbito do festival FESTin.
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Em entrevista à Lusa antes da estreia do filme, que será exibido no Cinema S. Jorge, o cineasta explicou que não quis fazer um filme sobre deficiência, mas "sobre sonhos", porque "todo o mundo sonha com alguma coisa".

"Colegas" pretende ser "um filme despretensioso" e Marcelo Galvão sabia que encontraria esse "astral positivo" em atores com síndrome de Down, que têm um "jeito cativante e carismático".

Sabia porque ele próprio foi criado com um tio com aquela condição, com quem passou "momentos muito agradáveis, felizes".

"Ele era um cara divertido, engraçado, tinha um coração gigantesco, era fácil de você ver através, não tinha muitas couraças, era transparente. Eu era criança, ele era adulto, mas a gente tinha muita coisa em comum, ele acreditava que tudo era possível", recorda.

Marcelo Galvão garante que os três protagonistas do filme -- Ariel Goldenberg (protagonista também de uma campanha com mais de um milhão de visualizações no YouTube, em que pedia ao seu ídolo, o ator Sean Penn, que viesse à estreia do filme no Brasil), Rita Pokk e Breno Viola -- não foram difíceis de dirigir.

Ao contrário, ajudaram "em muita coisa", porque "o lúdico, para eles, é muito presente" e, simultaneamente, sabem entender o que é "importante".

Claro que "têm coisas que atrapalham, a dicção", mas, "na soma, têm muito mais qualidades do que defeitos". E, por isso, deviam estar muito mais no cinema, para mostrar esta "parte da sociedade esquecida", defende o cineasta.

O filme, acredita, "abriu uma porta" para estes atores. Os três protagonistas "já foram convidados para fazer uma novela", no canal brasileiro SBT, o que motiva "outros garotos" e "estimula também os pais de jovens com síndrome de Down", mostrando que "existe uma luz ao fundo do túnel".

Confessando que não esperava a "recetividade toda" nem a repercussão que "Colegas" teve, Marcelo Galvão está agora a trabalhar num filme sobre a história do avô, que, aos 96 anos, tinha uma amante de 37 anos.

Para Marcelo Galvão, o desafio no Brasil é "fazer com que mais filmes nacionais sejam vistos no país" e isso passa por aumentar o número de salas disponíveis e por diminuir os custos de cinema.

"O cinema hoje é muito caro", visto por uma "elite", circunscrito a centros comerciais, com "coca-cola e pipoca", onde as salas estão todas ocupadas com blockbusters americanos, descreve.

Para os produtores independentes, "às vezes é difícil conseguir colocar um filme no cinema e principalmente manter esse filme no cinema", frisa, sustentando que "é preciso aumentar o número de salas e diminuir o preço do ingresso".

O FESTin decorre até 10 de abril.

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