'Cidade maravilhosa' e hiperinvestimentos

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As imensas reservas de petróleo descobertas na região do pré--sal - com início da produção em larga escala programada para 2015 -, a realização do Mundial de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 são eventos de alcance global responsáveis por tornar o Rio de Janeiro no centro de investimentos do Brasil na próxima década. Esta onda de hiperinvestimentos reforça a ideia de um Brasil ufanista alimentada ao longo dos últimos anos, principalmente no mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Internamente, o incontestável resultado desta estratégia política são os índices de aprovação do Presidente, superiores a 80%. Lula acredita que o futuro económico do Brasil nos próximos dez anos será a redenção para o povo.

Comenta-se na imprensa brasileira que o ano 2000 é o marco zero do "Brasil potência" e que durante a próxima década a economia brasileira poderá subir três posições no ranking das maiores do mundo, passando a ocupar o 5.º lugar. Argumentos não faltam: o mercado interno é grande e está em expansão; o sector industrial brasileiro é diversificado; o Brasil é um dos maiores produtores de bens de primeira necessidade; possui um sistema financeiro sólido; terá uma das maiores reservas de petróleo do planeta; o país liderou o G20 e possui grande visibilidade internacional; e por fim, serão investidos milhares de milhões de reais no Mundial de Futebol e nos Jogos Olímpicos.

Dois dias após a escolha do Rio como sede das Olimpíadas, as Nações Unidas divulgaram o ranking do Índice de Desenvolvimento Humano, onde o Brasil ocupa o gravíssimo 75.º lugar. O Brasil está entre os dez países mais desiguais do mundo, em que os 10% da população mais ricos possuem 43% da riqueza do país, enquanto os 10% mais pobres ficam com apenas 1% da riqueza. Para entender a origem destas desigualdades é necessário uma perspectiva ampla, abrangendo o passado histórico, sem desconsiderar as dimensões continentais do país e a escravidão em sua formação, que é o paroxismo da exclusão social.

O Brasil bateu Barack Obama e os EUA na disputa pelos Jogos Olímpicos, mas não tirou do poder o corrupto presidente do Senado, José Sarney. O Estado tem a Petrobras, a maior empresa da América Latina, cuja facturação anual é maior que o PIB de vários países, no entanto é incapaz de encontrar soluções para a violência e discriminação, que emergem de um estado de opressão socioeconómica sobre os pobres e miseráveis do RIO e de todo o Brasil, pela classe política e elites brasileiras. Não se contesta a ascensão do Brasil na geopolítica internacional. Mas esta condição também amplifica e irradia uma face subdesenvolvida e perversa do país, actualmente simbolizada pelas tensões sociais do Rio. A expectativa é grande para que o Rio, na próxima década, seja mesmo transformado numa "cidade maravilhosa".

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