'Berto Maluco' estava marcado para morrer

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Mulher da vítima apontou o dedo ao gangue da Ribeira

Escapou da morte na madrugada de Agosto em que estava na companhia do empresário Aurélio Palha, assassinado junto à discoteca Chic, mas o facto de ser suspeito da morte do segurança Nuno Gaiato e a presença numa alegada lista de alvos a abater no mundo da noite terá sido fatal para o segurança Alberto Carvalho, conhecido como "Berto Maluco". Foi assassinado às 23.20 de domingo, em Gaia, com três rajadas de metralhadora disparadas por vários indivíduos encapuzados que, segundo relatos de moradores à polícia, terão fugido num BMW preto.

Alberto Carvalho, 36 anos, era apontado como um dos três homens que, a 13 de Julho, terá morto o segurança Nuno Gaiato na discoteca El Sonero e terá sido o agressor do proprietário de um ginásio - onde treinavam muitos seguranças ligados ao designado "Gangue da Ribeira" -, que se reunira com Aurélio Palha pouco antes da execução do empresário. Berto escondeu-se atrás de um muro, escapando ileso e, à data, fontes policiais confirmaram que a morte do empresário poderia estar directamente relacionada com as agressões.

O homicídio de "Berto Maluco", baleado diversas vezes no tórax, abdómen e crânio à porta da sua residência, na rua Fonte dos Arrependidos, em Gaia, eleva para quatro o número de vítimas mortais associadas à segurança de espaços de diversão nocturna do Porto nos últimos cinco meses (houve mais duas mortes, que não resultaram da guerra pelo domínio da noite e cujos autores foram detidos).

No imediato, a família apontou o dedo ao "Gangue da Ribeira" - alegadamente liderado por Bruno Pidá, suspeito dos assassínios de Aurélio Palha e do segurança Ilídio Correia, este há apenas doze dias, em Miragaia. "Aqueles filhos da p... da Ribeira, vocês apanhem-nos que eles andam a matar toda a gente", ouviram os vizinhos da boca da mulher de Alberto, que gritava para a polícia após o crime.

O ataque certeiro indicia profissionalismo dos executores da sentença de morte de Alberto Carvalho, avançando-se a hipótese de assassinos contratado, à semelhança do que foi equacionado aquando do homicídio de Aurélio Palha. "Eram umas 23.30 quando ouvi duas rajadas seguidas de tiros que pareciam de metralhadora e, um minuto depois, houve outra rajada", contou ao DN uma moradora do prédio que não quis ser identificada com receio de retaliações. Quando ela e o marido ganharam coragem para ir à janela, "ele estava de barriga para baixo e todo ensanguentado, pensei que estivesse morto, mas conseguia ouvir-se e ver o movimento da respiração", contou ainda - Alberto foi assistido no local pelo INEM mas acabou por falecer a caminho do Hospital de S. João, no Porto.

Dezenas de projécteis deixaram marcas nos dois lados dos muros e do portão do edifício de cinco andares, desconhecendo-se se resultaram de ricochetes de balas ou de disparos efectuados de mais do que uma direcção. O alarme de uma loja encostada à entrada da residência de Alberto disparou por volta das 23.30, mas a empresa de segurança responsável não se deslocou ao local por perceber que terá sido accionado por algo que se passou no exterior do estabelecimento. Poderá ter sido o barulho das balas a fazer disparar o alarme, mas é está em cima da mesa a hipótese de ter sido aí, junto a um pequeno muro, que os encapuzados esperaram pela vítima, o que pode explicar o facto de haver marcas de bala do lado de fora e do lado de dentro do portão.

Berto 'Maluco' estava acompanhado pelo irmão, que escapou ileso do ataque mas foi transportado ao Hospital Santos Silva, em Gaia, por se encontrar em estado de choque - transportavam pertences pessoais para uma carrinha estacionada à entrada porque, aparentemente, Alberto estaria prestes a mudar de casa. "Vi um senhor numa cadeira de rodas e com uma máscara de ar, via-se que estava em estado de choque mas não sei quem era", adiantou ainda a mesma vizinha, que garante não se ter apercebido de movimentações antes dos disparos: "Nem sequer vi as pessoas, só me apercebi do barulho dos tiros."

A vizinhança desconhecia as ligações de Berto ao mundo da noite, assim como o seu cadastro policial. O segurança foi detido em Abril de 2002 pela Polícia Judiciária do Porto por um crime de homicídio, ocorrido a 4 de Fevereiro de 2001 na discoteca Number One, no Porto (onde era actualmente responsável pela segurança), encontrando-se de momento em liberdade condicional. "Eram simpáticos, bons vizinhos, apesar de o nosso relacionamento ser de 'bom dia, boa noite'", contou outro morador. "Era uma pessoa robusta, entroncado, não sei se andava num ginásio mas tinha aspecto disso", disse ainda uma vizinha.

O DN tentou obter uma declaração da mulher de Alberto, que durante a manhã se cruzou com os jornalistas ao sair de casa com alguns sacos, mas não quis fazer quaisquer comentários: "Não me façam perguntas, a minha filha está aí", disse apenas.

O surto de criminalidade associado à noite do Porto no qual este homicídio se insere é interpretado como uma "guerra" entre grupos rivais de seguranças profissionais na disputa de território, mas também é relacionado com negócios de droga.

No local estiveram o INEM, a Divisão de Investigação Criminal da PSP e a Brigada de Homicídios da Polícia Judiciária, que assumiu a liderança da investigação mas durante todo o dia se fechou em copas quanto a declarações sobre os contornos do homicídio e suas eventuais ligações.

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