'Anna Karenina': A reeinvenção teatral de um clássico

A história de uma mulher sem medo de existir celebrizada pelo romance de Tolstoi surge no grande ecrã numa adaptação assinada por Joe Wright.
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Título: 'Anna Karenina'

Realização: Joe Wright

Com: Keira Knightley, Jude Law, Aaron Taylor-Johnson e Emily Watson.

Distribuidora: Zon Lusomundo

Classificação: 5 / 5

Sinopse: Adaptação do romance com o mesmo nome de Tolstoi, esta é a história de uma mulher casada que abdica de tudo pelo amor pelo Conde Vonskky.

Na crítica do The Washington Post a Anna Karenina, compara-se o realizador Joe Wright a um nome como Baz Luhrmann, com a ressalva de que o autor inglês o supera em "seriedade moral e maturidade". É bem verdade, porque se há qualquer coisa de Luhrmann (uma ideia de light opera) em Wright, o facto é que ele possui maior densidade moral e emocional. Porém, há um outro nome com quem Joe Wright mantém afinidades: o de Anthony Minghella (que, aliás, tem uma pequena participação em Expiação). Desde logo pela carga passional, emotiva e romanesca de que imbui os seus filmes - e Anna Karenina é uma condensação de emoções e paixões vivíssimas.

De facto, há em Wright uma tendência para um certo "emotivismo" e um sentido do romântico que faz lembrar o espírito e o sentido da beleza de um realizador como Anthony Minghella (1954-2008). Por outro lado, a acusação, por parte de alguns comentadores, de que Anna Karenina pecaria por "decorativismo" parece-nos injusta. É claro que a encenação (e a direção artística) são componentes fulcrais no cinema de Joe Wright (e isso já era bem visível nos seus filmes anteriores). Mas querer reduzi-lo à "pompa da imagem" ou a mero esteta que teria pouco mais para dar além da "luxúria" das imagens é quase mesquinho. Porque o golpe de asa de Wright em Anna Karenina é o da condensação, quase como um sonho condensa às vezes muitos elementos numa única "cena". Daí que a solução de encenar em jeito de peça de teatro atos importantes da história seja não só imaginativa como também uma forma de "condensar" em chave conceptual (mas nunca desprovida de intensidade) um romance de 800 páginas. Porque adaptar o livro de Lev Tolstoi, considerado um dos melhores romances da história da literatura, pedia um autor com fôlego. E Wright, ajudado pelo argumento de Tom Stoppard, possui o fulgor épico, poético e espiritual para encenar uma tragédia romântica intemporal.

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