"Só por cobardia é que não aceitaria o caso Maddie"

Rogério Alves fala do seu processo mais mediático, a defesa do casal McCann, a três semanas de deixar o cargo de bastonário da Ordem dos Advogados .
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A defesa dos McCann (...) surgiu casualmente?

Houve um pedido de informação por parte de uma sociedade de advogados internacional que, tendo feito as suas indagações, aconselhou o meu nome.

A amizade com Pinto de Abreu não influenciou?

Não teve a mínima relevância. Os processos de escolha foram completamente distintos.Os jornalistas são testemunhas que eu primo pela discrição e faço um esforço para não andar a dizer os clientes que tenho.

Este é um caso com contornos especiais...

Ao aceitar este patrocínio sabia que não podia passar despercebido. Tive de ter esse pequeno ónus, impossível combater.

Então porque aceitou?

A circunstância de ser difícil de ocultar não é suficiente. Porque é um caso aliciante do ponto de vista profissional e seria uma cobardia não aceitar. Não saltemos de uma coisa para a outra.

O facto de ser o bastonário dos advogados portugueses, porque se trata de um caso que opõe dois países, não pode ser instrumentalizado?

Não. Nunca foi e eu não deixarei. O que aconteceu é que muita gente com vontade de me criticar aproveitou esta deixa para o fazer. Mas não podemos deixar-nos manietar por quem faz muito barulho na comunicação social. Porque quem o faz não representa nada. E não posso rejeitar os casos só porque meia dúzia de pessoas começam a fazer barulho com as suas colunas de opinião e outros meios...

Já conheceu os seus clientes pessoalmente?

A relação entre advogado e cliente é de segredo. Eu, como todos os advogados, tenho de falar com os clientes. Este caso é muito falado mas não tem nada de excepcionalmente diferente face aos outros.

Tem-se deslocado a Inglaterra?

Quando se começa a abrir brechas em relação a esse tipo de informação, estamos a contrariar o que dizemos. O nosso próprio estatuto permite que o advogado se pronuncie publicamente quando o conjunto de notícias possa justificar uma resposta. Aí compreendo a vossa perplexidade. Porque realmente isso justificaria milhares de respostas. Mas a minha opção é exactamente a inversa.

O casal McCann não tem gozado do princípio da presunção de inocência?

Aquilo que me preocupa é que a intervenção dos media nos casos mais mediáticos pode pôr em causa esse princípio.

Houve uma viragem na opinião pública quando os pais de Maddie foram constituídos arguidos...

Não vou comentar. Como é óbvio, a comunicação social tem um poder enorme em orientar o pensamento dos cidadãos.

Com o anterior Processo Penal, Kate e Gerry McCann seriam constituídos arguidos?

Talvez. Não se sabe. Há agora um maior escrutínio na constituição de arguido. Isso é verdade.

O caso tem desfecho à vista?

Isso depende da investigação. Terá um desfecho quando o Ministério Público tomar uma decisão.

Como classifica a actuação da PJ?

Não falo desse assunto.

Mas este não é um caso qualquer. É normal que se coloquem estas questões...

Não me podem levar a mal por não responder.

Quanto vai ganhar com este caso?

Vou ganhar com base no que está no estatuto sobre honorários: conforme as horas aplicadas, as possibilidades de quem paga, o resultado para o cliente.

Mas tudo isso é subjectivo...

Pois é. Mas até agora ninguém levantou problemas sobre isso.

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