Há algum segredo que lhe permite produzir estes vinhos reconhecidos mundialmente em terras tão quentes e de pouca tradição vinícola?.O segredo é procurar conferir mais qualidade e longevidade ao vinho aumentando-lhe a acidez, porque nos climas mais quentes a acidez baixa muito nas castas mais tradicionais do Alentejo, como acontece com a aragonês. Compete-nos a nós ir corrigindo algumas destas situações, implementando outra variedades para que depois, em lote, se consigam criar equilíbrios e os vinhos não morram cedo..Essa longevidade pode chegar até onde?.Será de seis a dez anos para os melhores vinhos e mesmo os vinhos correntes poderão variar entre três a cinco anos. Se soubermos trabalhar as castas, se tivermos uma adega bem equipada e um bom trabalho de enologia, conseguimos superar parte das dificuldades que o clima nos impõe. Depois, é tirar partido das técnicas de mecanização e do mais baixo custo de produção, através de vindimas sempre muito iguais em termos de clima..Isso permite que os vinhos sejam muito semelhantes de ano para ano?.Sim e com outra vantagem ainda. São vinhos que amadurecem relativamente depressa. Oito ou nove meses após a vindima estão prontos para beber e isso é importante em termos financeiros.Apesar da reconhecida qualidade dos vinhos alentejanos, há quem defenda que o mercado começou a estar saturado. Que leitura faz?.Sem dúvida que o mercado está saturado de marcas, mas o Alentejo, além de ter dado um salto qualitativo, conseguiu manter preços competitivos. Depois, o que representa a área de vinha em função da área agrícola do Alentejo? Agora, não deixa de ser verdade que se algum dia os campos do Alentejo estiverem cheios de vinha, a desgraça será grande, porque vai ser preciso deitar uva fora. A vinha não pode ser a única solução, o governo tem de incentivar outras práticas..Mas não o tem feito?.Não. A agricultura de sequeiro atravessa uma crise insuportável e não me parece que haja qualquer possibilidade de sobreviver com tantas limitações. Eu não defendo que se faça agricultura em terrenos pobres, como trigo e coisas do género, mas pode m existir alternativas interessantes, como a floresta, o pastoreio extensivo e uma rotação de cereais bastante alargada para se poder produzir um bocadinho mais, castigando menos a terra.