"O País tem uma dívida por saldar" com Pintasilgo

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"O País tem uma dívida por saldar" com Pintasilgo

Ramalho Eanes marcou presença no lançamento

"O meu país tem para com ela uma dívida por saldar e o tempo para saldar uma dívida como esta pode e deve ser encontrado." As palavras são de Leonor Beleza, "ela" é Maria de Lourdes Pintasilgo. Uma pioneira no século XX português, repetiu ontem Beleza. Antes de passar à lista de exemplos: primeira secretária de Estado, primeira a assumir uma pasta ministerial, única primeira-ministra portuguesa, primeira embaixadora, primeira mulher a candidatar-se à presidência da República.

Uma pequena parte de um trajecto contado no livro Uma História para o Futuro- Maria de Lourdes Pintasilgo, dado à estampa pela editora Tribuna e ontem apresentado na Assembleia da República. Com os autores, Luísa Beltrão e Barry Hatton, a insistirem na mesma ideia. "Ela devia ser muito mais lembrada, devia ser agradecida e não é", defendeu Hatton, perante uma plateia onde se sentou o ex-presidente da República, Ramalho Eanes - precisamente o chefe de Estado que convidou Pintasilgo a chefiar o V governo constitucional (1979-80), que ficaria para a História como o "Governo dos 100 dias". Uma das fases da vida de Pintasilgo que merece um capítulo na obra agora editada, com alguns pormenores... "chocantes" nas palavras de Hatton. Exemplo: quando Pintasilgo foi ao Parlamento defender o programa de Governo, ouviram-se das bancadas de deputados comentários como "Vai para casa coser meias!".

Se é longa a lista de funções que Pintasilgo assumiu pela primeira vez no feminino, Leonor Beleza fez ontem questão de frisar que o trajecto de vida da ex-primeira ministro "foi muito mais do que isso". "Maria de Lourdes Pintassilgo era uma mulher de Deus, uma relação que trespassa todas as suas causas", sublinhou, destacando "a fortíssima solidariedade com as mulheres" . Não era uma personalidade com rupturas, como não era uma mulher de consensos: "Como ela dizia, preferia procurar as brechas nos muros: E infiltrar-se nelas, em vez de querer mandá-los abaixo". O presidente da AR, Jaime Gama, que encerrou o lançamento, deixou outra interpretação: "Não era tão extremista como alguns dos seus detractores faziam crer, nem tão progressista como alguns dos seus adeptos supunham."

Ao longo de 400 páginas, Uma História para o Futuro acompanha um percurso que começa a difereciar-se logo nos anos 50, quando Pintasilgo se forma em engenharia. Ligada aos movimentos internacionais de estudantes católicos, entra na vida política ainda antes do 25 de Abril. Antes de assumir a liderança do Executivo, é embaixadora na UNESCO, o primeiro dos muitos cargos internacionais que virá a ocupar nos anos 80 e 90.Maria de Lourdes Pintasilgo morreu a 10 de Julho de 2004.

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