"O fogo está às portas da cidade de Tavira"

Pelos menos oito incêndios estavam ativos em Portugal continental esta madrugada, sendo o distrito de Faro o mais afetado. Na Madeira, o foco de incêndio na zona da Camacha (Santa Cruz) obrigou a população a abandonar as suas casas.
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"O fogo está às portas da cidade de Tavira!". Foi desta forma que bombeiros e socorristas descreveram ao DN, ao princípio da madrugada, o cenário dantesco, com as chamas a galgarem montes, empurradas por vento intenso, a que já se assiste desde a A22/Via do Infante e numa altura em que muitas pessoas, em pânico, estão deixar as suas habitações com o apoio dos autarcas das juntas de freguesia daquele concelho do sotavento algarvio. Há até situações em que quando militares da Guarda Nacional Republicana chegam às casas em perigo para retirar os moradores já as encontram de portas abertas e sem ninguém no seu interior. Várias viaturas de bombeiros passaram há pouco na Via do Infante, onde já há faúlhas, em direção às zonas mais fustigadas pelas chamas.

"O incêndio avançou ao longo de quarenta quilómetros em quatro horas, estando a progredir já em direção ao concelho de Alcoutim e a Espanha. Esta situação é pior do que aconteceu em 2003 na serra de Monchique. Ninguém pensava que isto poderia suceder", disse ao DN um bombeiro, pedindo o anonimato. Um outro acrescentou: "Há fogo por todo lado, o calor e o vento em nada ajudam e a confusão é muita." O DN contactou o Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) /Proteção Civil, em Faro, mas a operadora de serviço disse não ser possível estabelecer ligação ao comandante que se encontra no teatro das operações. Entretanto, devido ao agravamento da situação, o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, está a caminho de Tavira.

De acordo com a página oficial da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), o fogo que mobiliza mais meios e que lavra há mais tempo é o de Cachopo, em Tavira, que prosseguia com quatro frentes ativas, sendo combatido por 709 bombeiros e 188 viaturas.

O presidente da Câmara de Tavira, Jorde Botelho, disse à Lusa que já arderam mais de 5.000 hectares no incêndio de Cachopo, que lavra desde quarta-feira e estima que a área ardida seja "muito superior". O autarca disse ainda que "as chamas estão a ameaçar habitações" e que "o fogo se propagou para sul, para a freguesia de Santa Catarina", pelo que "a situação é muito grave".

"Estou extremamente preocupado", acrescentou, acrescentando que, pelo menos 30 pessoas foram realojadas ou em casas de familiares ou em lares de idosos.

Ao que o DN apurou, já foram dadas instruções para evacuar casas na localidade de Santa Catarina, no concelho de Tavira, e o fogo já chegou também ao concelho de São Brás de Alportel, sendo já visíveis as chamas da vila.

Também em Faro, na localidade de Almada do Ouro, em Castro Marim, lavrava às 23:30 um incêndio com duas frentes ativas, mobilizando 29 homens e 11 veículos.

No distrito de Portalegre, prosseguia o fogo que deflagrou às 18:00 de quarta-feira, com duas frentes ativas. No local, estavam 256 bombeiros, apoiados por 69 viaturas.

Na Junqueira, concelho de Torre de Moncorvo (Bragança), estava em curso um fogo com duas frentes ativas, mobilizando 92 homens e 23 viaturas.

No dia de ontem ocorreram 169 incêndios, sendo que oito destes continuam ativos. No entanto, apenas são fornecidos pormenores sobre os fogos que envolvem mais meios e/ou lavram há mais tempo.

Madeira

As chamas continuam a lavrar no concelho da Camacha, Santa Cruz, e, nas últimas horas, obrigaram parte da população de Rachão de Cima a abandonar as suas casas, apesar dos esforços dos bombeiros, constatou a Lusa no local.

"A zona alta da Camacha de facto está a causar ainda muita preocupação, mas posso dizer que todos os meios disponíveis estão a concentrar-se no local", disse à Lusa esta madrugada o presidente da Câmara daquele concelho.

"Espero que a situação possa ser controlada o mais rapidamente possível para que, depois de ser controlada, possa ser feito um acompanhamento para evitar reacendimentos", sublinhou José Alberto Gonçalves.

O presidente do Serviço Regional de Proteção Civil madeirense, Luis Néri, informou que os focos no Vale Paraíso e Carreiras são, neste momento, "situações resolvidas".

"Não existem situações por resolver no concelho do Funchal depois dos momentos vividos durante a noite de quarta para quinta-feira", referiu.

O responsável admitiu que, embora não seja possível ainda contabilizar o número total de desalojados na sequência dos incêndios, que desde terça-feira fustigam diversos pontos da ilha, há mais de uma centena de pessoas no pavilhão Gimnodesportivo de Machico e no Regimento de Guarnição do Funchal.

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