"Nem pensem que hesitaria em matar-vos"

O líder dos rebeldes pró-russos no leste da Ucrânia, conhecido como o Demónio, ameaçou matar dois jornalistas, após perceber que estes registavam as suas ameaças de fuzilamento às forças ucranianas, que diz querer "pendurar em postes de eletricidade"
Publicado a
Atualizado a

"Com um bigode de morsa, um temperamento colérico e uma reputação de brutalidade, Igor Bezler é o mais temido líder dos rebeldes no Leste ucraniano. De apelido Bes, ou 'o Demónio', se tivermos em conta os serviços secretos ucranianos (SBU), o Demónio e um grupo de homens que o seguem foram responsáveis pelo abate do voo MH17 da Malasya Airlines (...)". É desta forma que o líder dos rebeldes pró-russos é descrito pelo repórter do jornal 'The Guardian', Shaun Walker.

O jornalista, acompanhado de outra repórter russa, conseguiu entrar na cidade de Gorlovka onde se encontrou com Bezler. Cidade que, conta Walker, "se tornou o feudo do Demónio há três meses, quando a insurgência começou". Nela, "alguns dos combatentes eram locais; outros vieram da Rússia e estiveram num campo de treino em Rostov, para lá da fronteira, antes de serem enviados para o Demónio".

Perante a visão de vários reféns na posse dos rebeldes, Bezler afirmava: "A única razão pela qual estão aqui é porque são soldados ucranianos." "Nós prendemos aqueles que estão a lutar com o exército ucraniano. Aqueles que estão a lutar com batalhões voluntários nós questionamo-los e alvejamo-los no local. Por que é que haveríamos de ter piedade deles?", acrescentava.

Segundo conta o jornalista, Bezler terá aumentado progressivamente o tom de voz, proporcional à sua ira: "Devia ver o que eles fizeram à minha gente. Eles cortam-lhes as cabeças e cagam nos capacetes! São fascistas! Por isso, por que é que haveríamos de fazer cerimónia com eles? Interrogatório, execução, e é isso. Eu vou pendurar esses cabr*** em postes de eletricidade!"

Foi ao perceber que a jornalista russa que acompanhava Shaun Walker tinha um dictafone ligado, e que este último havia tirado notas escritas, que Bezler retirou de rompante o objeto das mãos da jornalista e "ordenou a um dos combatentes que o atirasse à parede". Quanto ao jornalista do 'The Guardian', o líder dos rebeldes ter-lhe-á arrancado o bloco das mãos, começando a rasgar as páginas "freneticamente".

Perante o protesto dos dois jornalistas, Bezler terá ordenado aos seus subordinados: "Queimem os blocos deles! Retirem-lhes os aparelhos eletrónicos! Procurem todo o material comprometedor e destruam-no! Se encontrarem alguma coisa, executem-nos como espiões!" "Nem pensem que hesitaria em matar-vos", lançou o Demónio, ameçando diretamente os dois jornalistas.

Por fim, Bezler viria a acalmar-se e acabou por devolver os materiais aos dois jornalistas. Não sem avisar os seus homens que jamais os deveriam deixar voltar a entrar.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt