"Não tinha a noção do que era dar a cara pela doença"

Artista está a lutar contra um cancro da mama.
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Ao surgir no palco do Natal dos Hospitais [em Alcoitão] sem cabelo, assumindo sem preconceitos a sua doença, emocionou o público...


Ao aparecer sem cabelo, não o fiz para impressionar. Estou assim porque me sinto bem. Mas admito que agora uso gorros, mas é porque está frio! Não faz qualquer sentido pensar que os homens podem ser carecas e as mulheres não. Naturalmente que respeito quem prefere usar perucas ou lenços, mas eu sinto-me bem assim: careca. E ninguém pode condenar quem prefere estar assim.


Mas considera que foi importante esta sua presença no Natal dos Hospitais, actuando frente a pessoas que também lutam contra problemas de saúde?


Admito que não tinha a noção da importância que é dar a cara pela doença. Uma das coisas que percebi é que há muitos preconceitos com as pessoas que sofrem de doenças, falta de amor e carinho mesmo por parte dos familiares. Estava longe deste processo, mas o que digo a estas pessoas aqui [no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão], e não só, é que mesmo sozinhas, sem apoio, podem ser felizes. Têm de acreditar.


Também se emocionou ao receber tanto carinho do público?


Sim, mas não tem sido só aqui. No Facebook, por exemplo, percebi que o amigo não é só virtual. Podemos chorar e rir juntos, dar apoio... tenho recebido tantas mensagens e conselhos. Tem sido importante para mim. Estas novas tecnologias na Internet fazem--me perceber que não estou sozinha. Só lamento não conseguir responder a todas as pessoas. Mas vou fazê-lo!

Vê-se como um exemplo de força para quem sofre também de doenças graves, um pouco como acontece com outras figuras públicas em situações idênticas?


Noto que há um carinho diferente, especial. Vêem em mim uma fonte de força, olham-me, às vezes, com aquele olhar como se eu fosse uma heroína. Mas eu não o sou. Sou uma sortuda, isso sim. É novidade para mim, enquanto figura pública esta influência. Antes foi a Fernanda Serrano que sensibilizou muito. Mas longe de mim pensar que também estaria um dia a dar palavras de apoio. Mas atenção, eu não estou a passar nem um milésimo daquilo que muitos passam, como eu vejo quando vou fazer os tratamentos. Então as crianças que também sofrem de problemas oncológicos... Custa-me muito ver esses casos. Mas sinto-me mal como heroína, porque isso somos todos nós. Uma verdadeira inspiração foi o António Feio, não eu.


Ele foi um herói para si?

Sim, o António Feio foi um herói. A forma como encarou a doença, publicamente, sempre com aquele sorriso. Ele é uma inspiração para todos os que passam por isto, para os que passaram e será para os que vão passar. Eu bebo as palavras do livro dele, no sentido de encarar esta fase da minha vida com humor, que é a melhor forma de encarar a adversidade. São mensagens muito importantes que ficaram gravadas na memória e que não serão certamente esquecidas.

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