"Gostava de conhecer o dr. Mário Soares. Pode-se discordar dele, mas tem a virtude da bonomia: reflecte o espírito português da tolerância e da solidariedade"

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Tem medo de quê?

Não tenho medo de nada.

Gostaria de viver num hotel?

Não. Tornar-se-ia fastidioso. Um hotel nunca é a nossa casa.

A sua bebida preferida?

Vinho tinto. Sou refém daquela afirmação do Salazar, que dizia que beber vinho é dar trabalho a um milhão de portugueses.

Tem alguma pedra no sapato?

Pedra no sapato só existe quando surge algo que nos impeça de progredir. Sou muito prático nisso: quando estou num partido que constitui parte do problema e não da solução, abandono esse partido.

Que número calça?

41.

Que livro anda a ler?

Ando a reler um livro do Miguel Urbano Rodrigues, O Tempo e o Espaço em que Vivi.

Costuma ter muitos livros à cabeceira?

Não. Só dois ou três. Vou-os guardando à medida que vão sendo lidos.

A sua personagem de ficção favorita?

A Mãe, de Maximo Gorki.

Rir é o melhor remédio?

Sim. Quem dá demasiada importância às coisas materiais geralmente não ri.

Lembra-se da última vez em que chorou?

Lembro. Foi quando morreu a minha mãe.

Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?

Gosto mais de ser conduzido, de comboio ou autocarro. Assim vou mais descontraído, sem ter preocupações com o trânsito.

Transgredir é bom?

Gosto de andar dentro das regras e dentro das leis. Só me revolto contra as leis quando são fascistas e reaccionárias e contra a justiça quando é dominada pelo tráfico de influências.

Qual é o seu prato favorito?

Bacalhau com grão e batatas. Habituei-me a comer este prato na tropa, em 1973-74. É bom, com um copo de vinho. Todos os portugueses gostam. Só não se pode comer sempre porque é caro.

Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?

A gula. Às vezes como de mais.

A sua cor preferida?

O verde. Do Sporting.

Costuma cantar no duche?

Não.

E a música da sua vida?

Eu Vim de Longe, do José Mário Branco. E Traz Outro Amigo Também, do Zeca Afonso.

Sugere alguma alteração ao hino nacional?

Nós perdemos o império: a letra já não é muito adequada. Mas deixemo-lo assim, até porque a música é boa.

Parece-lhe bem a actual bandeira nacional?

Está bem.

Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?

Gostava de conhecer o dr. Mário Soares. Podemos discordar dele, podemos criticar o seu percurso político, mas tem a virtude da bonomia: reflecte o espírito português da tolerância e da solidariedade.

As aparências iludem?

Sim. A realidade é captada de forma imperfeita pelos nossos sentidos, como dizia o Descartes.

O que é que um verdadeiro cavalheiro nunca faz?

Nunca deve perguntar a idade a uma senhora.

O que é que uma verdadeira senhora nunca faz?

Não deve dizer palavras vernáculas em público. Isso não a dignifica.

Qual é a peça de vestuário que prefere?

Calções.

Qual é o seu maior sonho?

Termos uma sociedade mais justa em que a Constituição da República seja levada a sério.

E o maior pesadelo?

Pesadelos não tenho.

O que o irrita profundamente?

Nada me irrita profundamente. Há quem se irrite comigo sem que eu me irrite com ninguém.

Qual a melhor forma de relaxar?

Nadar.

O que faria se fosse milionário?

Podia tornar-me um homem infeliz. Muitas vezes a pessoa é mais feliz quando tem pouco dinheiro.

Casamentos gay: de acordo?

Tolero as pessoas como elas são. Se querem casar, o problema é delas.

Uma mulher bonita?

Um rosto bonito que já vi na televisão: Maria Flor Pedroso.

Acredita no paraíso?

Não acredito. O paraíso não existe. É uma fábula da Bíblia. O paraíso dos árabes, segundo se diz, é um bocado melhor: está cheio de mulheres bonitas.

Tem um lema?

Como dizia o Brecht, "há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um mês e são melhores, há ainda outros que lutam toda uma vida e são imprescindíveis." A luta deve fazer sempre parte da vida.

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