"Erro de Olmert foi ter-se precipitado sem Israel estar pronto para a guerra"

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Está a visitar o Norte de Israel, como está a situação nessa região?

Vou neste momento para Acre. Está tudo relativamente calmo. As pessoas estão a regressar. Há muitos autocarros a chegar, uma vez que mais de um milhão de pessoas deixou o Norte para fugir aos rockets do Hezbollah. Estive em várias cidades e vi muitas casas destruídas.

Este é o terceiro dia de cessar-fogo, acha que vai durar?

Não sei. Todos temos receio de que algo possa correr mal. Mas espero que desta vez as Nações Unidas cumpram a sua palavra. A comunidade internacional deve intervir, o exército libanês começa a chegar ao Sul amanhã [hoje] à noite e os soldados israelitas começam lentamente a retirar. Muitos dos nossos militares já estão a regressar a Israel, o que, para nós é muito bom.

O exército israelita admite ficar alguns meses no Sul do Líbano, isso pode dificultar o processo de paz?

Honestamente, não me parece que vá haver processo de paz. O que temos ouvido por parte do Líbano, mas também da Síria, não é um bom indicador. Os israelitas só querem calma e alguma espécie de coabitação com os países árabes. O objectivo desta guerra, que nós não começámos, era trazer paz ao Norte. Espero que, desta vez, o Hezbollah não volte a ameaçar o nosso país.

O exército libanês tem capacidade para desarmar o Hezbollah e manter a calma na zona fronteiriça?

Não tenho a certeza, por isso precisam de ajuda internacional. Na realidade duvido que eles tenham intenção de enfrentar o Hezbollah para lhe impor seja o que for. Os próximos dias serão decisivos. A comunidade internacional tem uma oportunidade para desempenhar um papel fundamental e enviar uma mensagem forte ao Hezbollah e ao Líbano. Se o Hezbollah voltar a intimidar toda a gente, então não teremos cumprido o nosso objectivo.

O primeiro-ministro Ehud Olmert tem sido fortemente criticado pela forma como conduziu a guerra. Concorda com essas críticas?

A verdade é que ninguém estava preparado para a guerra. Pessoalmente não critico o primeiro-ministro. Acho que a culpa não é dele, é da situação. O que devia ser questionado, neste momento, é como permitimos ao Hezbollah, durante anos, ocupar o Sul do Líbano e ameaçar o Norte de Israel, sem fazer nada. A responsabilidade não é só de Olmert, mas também dos líderes que o antecederam. Mas, agora que a guerra parece ter acabado, devemos pensar no futuro. É preciso rever a estratégia do exército, que não estava preparado para a guerra contra uma guerrilha. Mas, repito, o maior problema é que o país não estava preparado para ser atacado. Muitos dos locais atingidos pelos [rockets]katiusha não tinham abrigos e equipamentos adequado.

Os analistas dizem que os israelitas têm saudades de Ariel Sharon e que, confrontado com uma situação semelhante, o ex-primeiro-ministro teria agido de forma diferente de Olmert. Concorda?

Com a sua experiência militar, Sharon teria provavelmente pensado primeiro em preparar o país para a guerra. O maior erro de Olmert foi ter-se precipitado. Mas não me parece que este seja o momento oportuno para apontar culpados. A questão agora é saber como vamos lidar com a situação no futuro.

Parece cada vez mais difícil a aplicação do plano de retirada da Cisjordânia. Como é que esta guerra pode afectar o futuro de Israel?

Neste momento, será muito difícil conseguir apoio para uma retirada das cidades da Cisjordânia sem um acordo [com os palestiniano]. Algumas pessoas, tanto na esquerda como na direita, consideram fundamental haver uma garantia de segurança antes de qualquer retirada.

Pela segunda vez o exército israelita tem de retirar do Sul do Líbano sem ter neutralizado o Hezbollah. O que falhou?

Não compreendo essa pergunta. Se tivéssemos ficado, diziam que queríamos conquistar o Líbano. Não é a nossa intenção, por isso não há motivo para ficarmos no Sul do Líbano. Não compreendo: se bombardeamos o Líbano, dizem que a resposta é desproporcionada, se não bombardeamos, dizem que falhámos, se retiramos, somos criticados, se ficamos, dizem que estamos a ocupar. Não há qualquer razão para ficarmos no Líbano. O problema é que, quando o dizemos, ninguém acredita. Saímos do Líbano há seis anos e respeitamos uma fronteira internacional. Esta guerra, que eles começaram, é completamente injustificada. A única coisa que nós queremos é uma fronteira segura. HT

Durante uma viagem pelo Norte de Israel, onde foi testemunhar a destruíçao causada por 34 dias de guerra, Colette Avital explicou ao DN que será difícil chegar a um processo de paz. Numa entrevista telefónica, a deputada trabalhista sublinhou que Israel apenas deseja uma calma duradoura no Norte, sem a ameaça do Hezbollah.

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