"É bom que o Inter nos menospreze"
Já se sabe que o colorido das conferências de imprensa mais ou menos recentes no Dragão se acinzentou. O silêncio das últimas semanas, imposto por uma postura anti Comissão Disciplinar, foi quebrado ontem por José Couceiro, na véspera do regresso do FC Porto à Liga dos Campeões, hoje (19.45, RTP1) no Dragão, frente ao Inter de Milão. O discurso não foi espampanante, mas foi acutilante e pragmático. Aliás, dá a ideia de que a recuperação dos portistas, dentro e fora do relvado, passa por uma estratégia de contenção, pragmatismo e eficácia. A mensagem do treinador, pelo menos, é essa.
O que se viu ontem no Dragão foi que a estreia de Couceiro na alta roda não o afectou minimamente. Respondeu ao que tinha que responder, mesmo que se sentisse espicaçado por questões menores como o desconhecimento de Véron (jogador do Inter) sobre a sua equipa, lançou as pistas de uma linha compacta, unida em torno de um só objectivo. E sem pressões em excesso, porque esse é um fardo que José Couceiro começa a tentar retirar dos ombros - e, sobretudo, das mentes - dos seus atletas. "Um bom resultado é ganhar sem sofrer golos. O menos mau, se não conseguirmos marcar, é também não sofrer. Podemos empatar cá 0-0 e lá 1-1. A ideia não é acabar com a invencibilidade do Inter [que não esta época, em 37 jogos], mas passar a eliminatória", sintetizou o treinador do FC Porto, que tentou assim afastar a maldição do Dragão, que assenta num registo negativo de resultados (cinco triunfos, seis empates e três derrotas em 14 jogos).
Traduzindo por miúdos, a ideia que passou das projecções de Couceiro é simples. Os avançados do FC Porto têm sido notados menos pelos golos do que pela entrada nos rankings das faltas cometidas (Postiga e Fabiano estão nos dez primeiros da primeira fase da prova)? "O importante é ganhar." "Preocupo-me com a equipa no seu conjunto. Para marcar golos não é preciso muita gente na área, basta estar lá. Não importa se é um lateral, avançado ou médio a marcar."
O FC Porto é frágil a atacar (quatro golos em seis jogos europeus, com apenas cinco equipas em 32 a fazerem pior) e defronta uma máquina de fazer golos (só duas fizeram mais do que os 14 do Inter)? Então, aposte-se na firmeza defensiva. "Ofensivamente todos sabemos que Inter é muito forte. Já vez jogos de grande nível, mas é possível não sofrermos golos. Vamos ter cuidados iguais a todos os jogos e tentar marcar mais golos do que o adversário. Há que ter alguns cuidados, pois, em caso de empate, os golos fora valem a dobrar. Mas não vamos ser uma equipa defensiva", desdramatiza Couceiro.
Numa conferência em que o treinador revelou, mas não explorou (respondeu sempre através do tradutor), uma veia poliglota (percebeu as perguntes em inglês e castelhano sem problemas), notou-se que Couceiro fez o trabalho de casa. Pelas mensagens de relativização da pressão, mas também por revelar estudo do adversário. "Pelo que já vi do Inter, penso que temos 50 por cento hipóteses. Estes jogos são como finais. As equipas são muito idênticas, mas eles menosprezam-nos pelas muitas alterações em relação ao ano passado. É bom que nos menosprezem, pois assim faremos uma equipa muito mais forte", constatou o treinador.
Couceiro analisou ainda que já sente algum efeito do seu trabalho, apesar de terem decorrido apenas 20 dias desde que chegou ao FC Porto. "Ainda não estamos ao nível do ano passado, mas havemos de lá chegar."