"Amália foi um acontecimento raro no Mundo"
Lembra-se da primeira vez que veio a Portugal?
Perfeitamente. O Caetano [Veloso] estava no exílio e eu participei num festival na televisão. Queria cantar a Tua Presença Morena, do Caetano, mas Portugal também estava em ditadura e não deixaram. Nem me lembro o que cantei.
No ano passado lançou um documentário, O vento lá fora, a declamar Pessoa. Quando o descobriu?
Foi-me apresentado por Fauzi Arap, o meu mestre e diretor teatral, em 1971, quando me fez dizer em cena o poema do Menino Jesus. Ficámos juntos até à morte dele e eu fui estudando o poeta até ao ano passado quando surgiu a colaboração com a professora Cleonice, a maior autoridade brasileira em Pessoa.
Tem um poema favorito?
Não posso escolher. A cada dia gosto de um poema, de uma ária, de uma prosa, de um verso ou de um heterónimo diferente. É igual aos dias, conforme nascem com sol ou chuva, sou eu com o Fernando.
Esteve na homenagem à Amália. Continua a acompanhar a música portuguesa?
Tenho amigos e amigas cantoras e poetas da novíssima geração que admiro muito. Mas para mim Amália é outra deusa, está junta com Piaff, Judy Garland, Billie Holiday ou Maria Callas. A Amália foi um acontecimento musical raro no Mundo. Aos 13 anos já a ouvia, eu e o Caetano assistimos a todos os concertos que fez no Rio de Janeiro. Da nova geração adoro a Mísia, o Tiago Mello, a Mafalda ... A Inês Pedrosa também é uma autora extraordinária. Adoro.
Estreou-se com uma peça muito política em 1965 com a ditadura militar acabada de instalar. Era uma menina de 17 anos, não teve medo?
Aos 17 anos não tinha medo de nada, nem de trovoada quanto mais de autoridade. Hoje é pior, crescemos, aprendemos umas coisas e ficamos meio receosos. Sofremos muito com o exílio do Caetano.
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