"Agora tenho mais confiança com Deus"

Dois anos depois do susto que mudou a sua vida, a antiga manequim tem razões para sorrir. Numa entrevista exclusiva, Ana Maria Lucas fala da difícil recuperação, do apoio da família e dos amigos, da solidão, da relação com Deus e das saudades da TV.
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Três de Fevereiro de 2009. Ana Maria Lucas dava entrada no Hospital de Santa Maria, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). Dois anos depois de ter passado pelo maior susto da sua vida, que a obrigou a mudar radicalmente a maneira de ser e de estar, a eterna miss Portugal continua a recuperar lentamente. Mas tem cada vez mais razões para sorrir. "Ainda não estou totalmente recuperada, infelizmente ainda não falo muito bem. Mas quem me ouve já nota a diferença. Desde o princípio que acreditei que conseguia e consegui", revela uma orgulhosa Ana Maria Lucas, 61 anos, à Notícias TV.

A seu lado, durante toda a produção fotográfica exclusiva para a nossa revista, estiveram um dos filhos, o apresentador da RTP Francisco Mendes, de 37 anos, e a neta, Ana Mar, de 6, que têm sido incansáveis, sobretudo nestes últimos 24 meses. "Oitenta por cento da minha cura devo-a aos meus filhos [n.d.r.: para além de Francisco, Ana Maria Lucas é ainda mãe de Miguel, de 32 anos, ambos frutos do casamento entretanto terminado com o cantor Carlos Mendes], à minha neta e às minhas noras. Eles têm sido muito importantes. O resto é terapia da fala e fisioterapia."

Quando olha para trás, a antiga manequim vê uma Ana Maria Lucas bem diferente da de antigamente. Até no visual: "Decidi cortar o cabelo há duas semanas, porque é mais prático. Não me fica mal e assim aproveito para lavar a cabeça em casa", justifica.

Sobre o passado, não parecem restar grandes dúvidas: "Perdi muito tempo com a outra Ana Maria Lucas. Sou uma nova mulher. Mudou muita coisa [desde o AVC]. Principalmente, mudei a minha forma de estar, estou mais calma e tranquila, não vale a pena viver em stress. Afinal, foi o stress que me levou ao AVC...", recorda, para acrescentar: "Por outro lado, estou muito mais paciente, aprecio muito mais as coisas, principalmente as pequenas coisas."

Aprender a lidar com a solidão foi outra das batalhas ganhas nestes dois últimos anos. "Antes havia alturas em que pensava que estava mesmo sozinha, agora já não penso. Agora sou capaz de estar sozinha, sei que há coisas para fazer quando estou sozinha. Uma pessoa nunca está só se entender que existem outras coisas na vida."

Francisco Mendes interrompe a mãe e tenta explicar melhor o que esta quis dizer: "Ela agora já não sente aquele vazio... Antes do AVC, quando se confrontava com a solidão, a minha mãe sentia-se vazia. Agora, lentamente dentro dela, está a criar o seu preenchimento interior, já não sente aquela solidão e aquela dor tão grande que sentia."

Ana Maria Lucas garante que estes dois anos a recuperar do AVC "passaram a correr. Nem dei por isso", assegura. E admite que o que mais lhe custou foi "passados os primeiros seis meses". "Eu pensava que ia ser tudo mais rápido. Quando me apercebi de que tudo levava o seu tempo senti-me frustrada", reconhece. "Ela estava habituada a fazer as coisas muito rápido", acrescenta Francisco Mendes.

Dominada a impaciência, Ana confessa que não foi fácil também abdicar de velhos hábitos. "O mais complicado foi deixar de fumar... Mas, francamente, hoje nem me lembro disso. Os meus filhos, as minhas noras, a minha neta e os meus amigos preenchem-me completamente. Não me falta nada", sublinha.

Apesar de muita coisa ter mudado, há algo que se mantém: "A vaidade continua sempre (risos). Mas não ligo às grandes coisas, hoje qualquer coisa básica me serve para vestir", frisa.

"Tenho mais confiança com Deus"

Ter lutado para superar o AVC também aproximou Ana Maria Lucas de Deus. É a própria quem o assume. "Agora tenho mais confiança com Deus. Estou tu cá tu lá com Ele e é uma coisa natural. Antes rezava, mas era uma relação mais distante, agora sinto-me ao mesmo nível."

O filho mais velho dá uma achega e, depois de uma troca cúmplice de olhares, corrobora a versão da progenitora: "Ao deixar de ligar às coisas mais materiais a minha mãe está a tornar-se uma pessoa mais espiritual. Aliás, todos nós estamos a ter uma grande descoberta interior e pensamos até que ponto é que certos valores que temos como adquiridos não vão ser subvertidos em prol de outros mais importantes."

"Estrago a minha neta com mimos"

Actualmente, Ana Maria Lucas leva o dia-a-dia com muito mais à-vontade. "Não é muito preenchido. Quatro vezes por semana ainda faço fisioterapia e terapia da fala, à terça-feira escrevo a rubrica para a NTV - demoro umas duas horas - e de resto vou aos espectáculos, ao teatro, almoço e janto com os meus filhos ou com os meus amigos."

Um estilo de vida bem diferente daquele que tinha antes, desde que começou a trabalhar os 16 anos. "Antes eu só pensava em conseguir dinheiro para os meus filhos, sempre, sempre, sempre. Foram mais de 30 anos a pensar que tinha de trabalhar para os meus filhos", desabafa.

"Ela não estava habituada a este ritmo. A vida que ela tem neste momento é óptima", interrompe o apresentador do programa Top + da RTP1, que faz um balanço bem positivo destes dois anos: "Foram bons, no fundo este problema da minha mãe veio mudar muito as nossas vidas a vários níveis. Crescemos todos muito com tudo isto, porque ficámos a ver a vida de outra maneira depois de uma coisa destas. Eu sou uma pessoa totalmente diferente da que era há dois anos. Foi uma grande lição de vida e tem sido óptimo descobrir coisas na minha relação com a minha mãe e com a minha mulher que não sabia que estavam cá e que fazem de mim uma pessoa mais completa. Devo muito do meu crescimento interior a isto, infelizmente foi uma coisa que começou mal mas que está a acabar bem."

Fundamental na recuperação de Ana Maria Lucas tem sido, desde o início, a sua única neta, de 6 anos. "A Ana Mar tem-na ajudado muito, sobretudo com os exercícios da fala. É uma relação de cumplicidade", conta Francisco Mendes. "Ela passa quase todas as sextas-feiras comigo, os pais vão sair e ficamos as duas sozinhas. É muito divertido", revela a primeira miss Portugal. O filho Francisco confia plenamente na mãe para tratar do mais novo elemento da família. "É óptimo ver que ela consegue cuidar da neta com toda a autonomia", destaca.

E que tipo de avó é Ana Maria Lucas? A resposta chega pronta: "Sou uma avó normal, estrago a minha neta com mimos (risos). Os pais dão-lhe educação, os avós estragam (risos)."

A paixão pela moda e a vontade de ser (outra vez) avó

A moda continua a ser uma das paixões da eterna miss Portugal, de 61 anos. E é nessa área que a colaboradora da Notícias TV quer continuar a trabalhar: "Estou à espera que me contactem para fazer mais qualquer coisa relacionada com a moda, designadamente aconselhar pessoas sobre o que vestir. E tenho muito a agradecer o facto de poder escrever para uma revista e pôr em prática tudo o que aprendi ao longo dos anos."

Quanto a projectos, Ana Maria Lucas prefere não estabelecer metas. Mas assume um desejo: o de voltar a ser avó. "Adorava...", diz, com um sorriso. E os dois filhos podem muito bem vir a fazer-lhe a vontade em breve... "Claro que sim, eu tenho muita vontade de lhe dar mais um neto, embora seja difícil nos tempos que correm criar dois filhos. Mas espero que seja para breve e também gostava que o meu irmão [Miguel Mendes] tivesse um filho...", remata Francisco, com um sorriso malandro.

Leia a versão integral na edição em papel da Notícias TV

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