"Aceitarei a direcção de Vilar de Mouros"

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António Victorino d' Almeida, MAESTRO

Vai aceitar o convite para a direcção do Festival de Vilar de Mouros?

Para já, estabeleci um entendimento entre a Câmara de Caminha e a junta de freguesia de Vilar de Mouros. Eles irão resolver problemas com entidades várias a que sou totalmente alheio. Depois de resolvidas as questões, eu disse que aceitaria o retomar da direcção artística que assumi no primeiro festival, em 1971. Até porque o que estava a decorrer era um festival em Vilar de Mouros, e não o Festival de Vilar de Mouros, que tem características muito específicas. Não tendo a carga política que teve na época, terá sempre uma carga ideológica. Foi pela singularidade do festival que o mundo inteiro ficou espantado: era uma aldeia de 400 habitantes que organizou um evento onde foi Elton John, Manfred Mann, Amália, José Afonso, e que encomendou uma ópera e uma sinfonia.

Pretende programar diferentes estilos musicais ?

Absolutamente. Só aceitarei se se mantiver o espírito ecuménico do festival. É o festival de todas as músicas. É evidente que terá de dar-se uma força muito especial à componente que atrai mais público. Não tenho dúvidas disso, nem na altura dos primeiros festivais tinha. Sei que tenho de valorizar determinado repertório mais ligado à área pop--rock e ter muito boa música nesse campo. Mas a música sinfónica e outros géneros estarão representados.

Na altura viu em Vilar de Mouros o festival de Woodstock português?

George Harrison desmistificou muito Woodstock. Vilar de Mouros foi uma coisa pura e isenta de quaisquer efeitos colaterais que, infelizmente, Woodstock terá tido. Mas é claro que há uma relação. Foi a primeira vez que apareceram hippies por cá. Eu acho que Vilar de Mouros abalou mais as estruturas do regime em Portugal do que Woodstock abalou qualquer estrutura internacional.

Que recordações guarda dos primeiros festivais?

A seguir ao festival fiz um documentário que pela primeira vez foi proibido. Fui falar à censura e percebi que o programa não tinha sido censurado. Tinha sido Ramiro Valadão [responsável máximo da RTP] a proibir. Mas, como isso não fazia parte das suas competências, ele deu murros na mesa, mas teve mesmo de passar o programa. Como o festival era acusado de deboche, no documentário eu entrevistava uma freira da região e perguntava-lhe se tinha visto gente nua a tomar banho no rio. E ela respondeu com muita inteligência: se tivesse olhado, tinha visto.

De que outras mudanças necessita o festival ?

O recinto tem de voltar ao original, o campo de futebol. Até porque não nos interessa tantos milhares de pessoas. Isto é para valorizar o concelho. A partir de uns tantos milhares passa a ser uma invasão barbárica. Temos de saber se queremos dez ou 11 mil. Mas não queremos 50 mil.|

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