"A novela é uma crónica do seu tempo e um lugar de discussão dos temas atuais"

Débora Bloch veio a Portugal para promover a nova novela da Globo, <em>Sete Vidas</em>, que se estreia amanhã. Ao DN falou de si, do primeiro aborto aos 20 anos e da dificuldade em envelhecer
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É a protagonista da novela Sete Vidas, que se estreia amanhã, às 20.00, no canal Globo. O que é que esta trama traz de novo à TV?

A autora desta novela, a Lícia Manzo, traz uma linguagem nova. É uma novela de diálogos mais densos. As personagens estão sempre a fazer reflexões sobre as suas vidas, sobre os seus conflitos. É como se as personagens estivessem sempre a analisar-se.

Sete Vidas é sobre a doação de esperma e as configurações familiares que daí advêm. O que aprendeu com esta novela?

Eu não conhecia muito sobre este assunto, mas a novela fez que eu fosse pesquisar. Quem acede ao banco de esperma não tem acesso ao doador, que é sempre anónimo. Os filhos que foram gerados via doação de esperma não podem conhecer o pai, mas podem saber quem são os seus irmãos, quem foi gerado através do mesmo doador. E é aí que começam a nascer novas famílias. Nos EUA há pessoas que chegam a descobrir que têm 70 ou 80 irmãos, é uma loucura.

Dá vida a Lígia, uma jornalista que se torna mãe pela primeira vez depois dos 40 anos. No que é que esta gravidez vai alterar a vida da sua personagem?

A Lígia demorou muito tempo para se dedicar à maternidade. Quando ela se dá conta de que quer uma família já está numa idade complicada. Nessa altura ela está a ter um romance com o Miguel [Domingos Montagner] há um ano. Entretanto ele vai descobrir que tem vários filhos por ter sido doador.

Referiu que não sabia muito sobre este tema. Considera que a novela tem também a função de ensinar, além de entreter?

A novela é entretenimento. No Brasil, e acho que em Portugal também, atinge muitas pessoas, tem uma força muito grande. As novelas são uma crónica do seu tempo e um lugar de discussão dos temas atuais. Para muitas pessoas é uma fonte de informação.

O sonho de ser atriz já nasceu consigo ou teve influências do seu pai, Jonas Bloch, que também é ator?

A vida artística esteve sempre muito presente na minha vida. Na infância passava os fins de semana no teatro porque o meu pai estava sempre a fazer uma peça. Desde criança que estou dentro do teatro, então acho que foi uma coisa natural. Para dizer a verdade não sei se foi uma escolha [risos].

Alguma vez sentiu que o facto de ser filha de um ator fez que fosse olhada como a filha de...?

[pausa] No início talvez, mas depois vamos fazendo o nosso próprio caminho. Nunca dei muita importância a isso.

Já fez de heroína, antagonista e já teve papéis cómicos. A versatilidade é uma das suas marcas?

Eu gosto de diversificar. Incomoda-me quando vejo que estou a repetir-me. Faço questão de escolher coisas diferentes, quando posso. A tendência é que nos chamem para o mesmo tipo de papel e acabamos por fazer sempre a mesma coisa.

Acha que o formato novela tem conseguido regenerar-se ao longo dos tempos ou tem já acusado algum cansaço?

Às vezes sim, outras não. Mas a novela tem em si uma linguagem e um formato que próprios dela, que é o melodrama. Acaba por ser uma repetição dela mesma. Quando os autores vão sendo renovados, a novela acaba também por ter algumas novidades. Os temas vão atualizando a novela.

Participou na novela Avenida Brasil, que foi um verdadeiro fenómeno. O que esteve na base do sucesso dessa novela?

O texto do João Emanuel Carneiro era muito bem escrito. As personagens eram todas muito bem construídas, muito carismáticas. A novela tinha estrutura, tinha um gancho que fazia o espectador querer saber o que ia acontecer no dia a seguir.

Numa entrevista à revista brasileira Quem revelou que todos os meses pensa desistir da carreira de atriz. O que a faz continuar?

Um novo trabalho que seja estimulante e desafiante. Quando terminamos um trabalho de muito sucesso temos de começar tudo de novo. Não partimos do zero, mas temos de nos reinventar e redescobrir constantemente. Há alturas em que é difícil. Nunca estamos num lugar seguro, estamos sempre a começar uma coisa nova. Mas aquilo que move um ator é a busca.

Tem 52 anos. Tem sido difícil envelhecer?

É muito difícil envelhecer, não é uma coisa fácil nem agradável. Mas não são só perdas, tem um lado que é muito bom. Eu não trocava os meus 50 pelos 20 em termos da experiência que tenho. Sou uma pessoa mais tranquila comigo e com a minha vida. Mas a vida é isso, sabemos que vamos envelhecer e temos de lidar com isso e aceitar.

Recentemente admitiu que tinha feito um aborto quando tinha 20 anos. Ficou impressionada com o impacto que esta revelação teve?

No Brasil é uma questão de hipocrisia porque as pessoas fazem [abortos] e muitas mulheres morrem por causa disso. Até me surpreendi que as pessoas ficassem tão chocadas com este tema, é um pensamento muito retrógrado.

Acha que isso é fruto de uma sociedade ainda machista?

Sim, mas ao mesmo tempo temos uma presidente mulher [Dilma Rousseff]. Para um homem o facto de uma mulher engravidar de forma indesejada não tem tantas consequências como para uma mulher. Quem criou estas leis foram os homens. E é também uma coisa muito regida ainda pelos movimentos religiosos, em que a mulher está numa posição submissa.

Veio a Portugal para promover a novela Sete Vidas. O que mais gosta de fazer quando está cá?

Comer [gargalhada]. Como muito bem aqui em Portugal e também adoro os vinhos. Lisboa é uma cidade linda, muito agradável, e os portugueses são muito simpáticos. Gosto da vida aqui, não é uma cidade onde nos sentimos oprimidos. Podia morar aqui.

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