"A descoberta deste barco é um 'jackpot'"

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"Ainda não recebi nenhum contacto de Portugal!" O sul-africano Dieter Noli está surpreendido com a falta de interesse para com a descoberta mais emocionante da sua vida de arqueólgo: numa exploração de diamantes no mar a sudoeste da Namíbia foi encontrado um barco com mais de 500 anos. Possivelmente, será uma nau portuguesa.

Noli tem-se desdobrado em entrevistas para todo o mundo desde que a notícia estourou. Trabalha como consultor da De Beers, empresa que fez o achado, já considerado a descoberta arqueológica mais importante dos últimos tempos. Ao DN diz que vai agora partir para a análise do que foi recolhido, um "trabalho de detective". E uma vinda a Portugal pode ajudar a perceber que barco era este. "Um navio com um tesouro destes não pode não ter registo", diz.

Os homens da De Beers estão habituados a encontrar preciosidades no mar em frente ao deserto da Namíbia. Diamantes raros que foram arrastados para ali, com o tempo. Esta costa é conhecida no país como a "zona proibida" - ali ninguém circula sem autorização da Namdeb, o braço namibiano da De Beers. No dia 1 de Abril, a De Beers voltou a encontrar um tesouro, mas este não brilhava. A 200 metros da praia, 12 quilómetros a norte de Oranjemund, o geólogo Bob Burrell embateu num objecto diferente. Era um canhão de ferro e cobre enferrujado. Depois vieram lingotes de cobre, moldados em semiesfera. E armas - uma caixa de espadas, mosquetes, e mais de dez canhões de cinco estilos diferentes.

"Um jackpot!", como diz Noli, que foi imediatamente chamado ao local. Num só dia encontrou 2500 moedas antigas, portuguesas e espanholas.

A exploração dos diamantes na costa da Namíbia é feita com a construção de paredes de 30 metros formando uma cova de areia no meio do mar. "As fotografias que tirámos depois da descoberta são sete metros abaixo do nível do mar", explica Noli. Isto favorece o trabalho arqueológico numa costa onde se julga terem afundado muitos barcos (é por isso que a De Beers tem um arqueólogo marítimo a trabalhar para a empresa). "Há muito tempo que lhes dizia: 'mais cedo ou mais tarde vão encontrar um navio afundado. Isto era aquilo por que eu estava à espera nos últimos 20 anos", diz Noli.

Este navio, por exemplo, só tinha astrolábios rudimentares, que indicam apenas o Norte e o Sul.Podia afundar-se rapidamente com uma oscilação da carga brutal que levava. O barco não está intacto, a madeira tem marcas de bicho e havia pedaços de ferro fundido a juntar peças - o que indica que era velho. Mas é um tesouro. Os arqueólogos encontraram 2500 moedas de outro portuguesas e espanholas, 50 dentes de elefante, astrolábios e metais preciosos. Seis toneladas de cobre e outros metais ainda não completamente identificados. E também ossos humanos. Dois quase intactos e uma série de dedos de pé ainda agarrados a uma sola de sapato.

Podemos nunca saber de quem eram, mas, segundo Noli, "estes homens eram mais descobridores do que comerciantes". Ou seja, do início das descobertas que Portugal empreendeu, tendo passado por esta costa logo em finais do séc. XV, e no século seguinte fazendo dela uma rota frequente para a Índia. |

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