Gripe das aves o que é, quando começou e o que pode fazer
A gripe aviária pode ser causada por diferentes vírus, uns mais perigosos do que outros. Mas o H5N1, que agora chegou à Itália e à Grécia, tal como foi ontem oficialmente confirmado por Bruxelas (ver página anterior), é um vírus particularmente virulento, reconhecem os cientistas.
Foi em 1997 que este vírus aviário emergiu na China. E foi nesse mesmo ano que fez também a primeira vítima humana, em Hong Kong um menino de três anos, cuja família vivia paredes meias com uma exploração aviária. Pouco depois, outras cinco pessoas adoeceram no território com os mesmos sintomas, acabando também por falecer.
A então nova autoridade administrativa de Hong Kong - o território acabara nesse ano de ser entregue à China pela anterior administração britânica - viu-se obrigada a tomar medidas enérgicas, abatendo milhões de aves de capoeira. Foi um duro golpe para a economia local, que alguns interpretaram como um sinal pouco auspicioso, mas o problema foi debelado na altura.
Nove anos depois deste episódio, o vírus chegou ao coração da União Europeia (UE), com a morte confirmada de cisnes selvagens na Grécia e na Itália. As quarentenas estão em curso e não há notícia de doentes humanos nestes dois países europeus.
Depois do caso de Hong Kong e de alguns anos sem dar notícias, o vírus voltou a irromper, no final de 2003, na China continental. Mas vinha dessa vez com um novo ímpeto. Estava ainda mais virulento (já tinha sofrido mutações) e também era mais facilmente transmissível aos seres humanos, o que acontecia (e acontece) através do contacto próximo com aves infectadas.
Em Janeiro do ano seguinte registaram-se as primeiras mortes humanas devido à gripe das aves provocada pelo H5N1 no Vietname, na Tailândia e na China. E a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu os primeiros alertas de que as coisas podiam ficar muito mais sérias.
O maior risco, alertava a OMS, era que aquele vírus das aves se cruzasse numa pessoa doente, ou num outro animal (como o porco), com um vírus congénere humano.
Esse encontro poderia dar lugar a uma recombinação genética capaz de tornar o vírus das aves mais eficaz no organismo humano, tornando-o assim o agente ideal para causar uma nova pandemia (epidemia global) de gripe. Isso ainda não aconteceu, mas a hipótese continua de pé.
A História mostra que há, em média, quatro pandemias de gripe por cada século e os cientistas há muito que estão a aguardar próxima (houve três no século XX). Nos últimos anos, o vírus H5N1 revelou-se como o mais sério candidato a desencadear uma possível nova pandemia e a possibilidade mantém-se. Resta saber se as mutações necessárias vão mesmo acontecer.
No início de 2004, a pronta actuação da OMS e das autoridades sanitárias dos países asiáticos atingidos pela gripe das aves acabou por resolver uma vez mais o problema no imediato. Voltaram a ser abatidas milhões de aves de capoeira nos países onde a doença se havia decla- rado. E a coisa acalmou, para regressar em força no Inverno de 2004/2005 e, agora, uma vez mais.
Neste Outono/Inverno, o H5N1 cruzou os Urales e chegou finalmente à Europa. Roménia, Turquia, Croácia, Chipre (na zona turca) são os países que registam surtos nas aves. Mas na Turquia surgem também casos humanos. Até agora, morreram quatro pessoas,
Desde que o H5N1 surgiu, há no-ve anos, já houve 165 casos confirmados de gripe das aves em pessoas. Desses, mais de metade (88) foram mortais. Mas como acontece este contágio?
A OMS investigou todos os casos, um a um, e concluiu que todos eles resultaram de contactos muito próximos entre as pessoas e aves infectadas. A maioria dos doentes vivia junto de explorações aviárias ou trabalhava em mercados, onde as condições de armazenamento das aves eram pouco recomendáveis do ponto de vista sanitário.
Até hoje não há nenhum caso documentado de transmissão desta gripe entre humanos. Uma situação suspeita na Tailândia, no ano passado, não chegou a ser confirmada.
A OMS continua a seguir de perto os acontecimentos e o próximo momento a exigir vigilância parece ser o que se aproxima, em Março, com o regresso à Europa das aves migradoras que foram invernar a África. A questão colocar-se-á sobretudo em relação aos patos. Muitos parecem não ficar afectados com este vírus, tornando-se assim seus portadores e transportadores.