Argentina: o dólar blue volta a sofrer

Publicado a
Atualizado a

Na sexta-feira, a segunda instância judicial dos Estados Unidos confirmou a decisão da primeira, contra a Argentina. O que diz a sentença? Que o país terá de pagar 1300 milhões de dólares a um conjunto de credores dos chamados holdouts [ocorrem quando o emissor de obrigações entra em incumprimento]. Estes holdouts têm como estratégia comprar obrigações em incumprimento para meter ações em tribunal exigindo a totalidade do pagamento (deliberadamente fugindo a qualquer possibilidade de negociação dos contratos).

O problema para a Argentina é que estes fundos já foram bem sucedidos, noutras ocasiões.

O fundo Elliot Management Corporation, de Paul Singer, é um dos principais litigantes contra a Argentina. A sua estratégia passa por comprar dívida em incumprimento, tanto de empresas como de países. E como correu essa ideia? Incrivelmente bem: desde que este fundo começou a operar, rendeu 14,6% ao ano. No mesmo período, o S&P500 rendeu 10,9%.

A compra de obrigações corporativas da WorldCom e da Enron e a aquisição de obrigações do Peru, Congo e Argentina (foi tentado também com o Panamá, mas não correu bem) foram algumas das operações que mais renderam a este fundo.

Porque é que esta notícia é má para o dólar blue (dólar no mercado paralelo da Argentina)? Porque a jurisprudência mostra que a vantagem está do lado dos holdouts. Porquê? Porque está à vista que esta estratégia tem sido extraordinária e sistematicamente rentável.

Buenos Aires apelará ao Supremo dos Estados Unidos e poderá ganhar tempo se este tribunal decidir analisar o caso. Mas a má reputação internacional argentina faz pensar que, mais cedo ou mais tarde, 1300 milhões de dólares terão de sair do Banco Central para pôr fim a esta batalha legal.

Em concreto, o que poderá acontecer ao dólar blue durante as próximas semanas?

Depois de estar parada entre os 8,8 e os 9 na sexta-feira passada, a cotação do dólar blue disparou e chegou a negociar acima dos 9,20. Porque é que isto é importante? Porque os novos máximos, fruto desta subida invulgar, fazem pensar que a tendência de escalada está a ser retomada. E não surpreenderia se tomasse uma valorização acelerada.

Logicamente, os distintos braços governamentais tentarão evitar que isto suceda, através de intervenções indiretas. Será a tentativa bem sucedida? Provavelmente não ao ponto de evitar que o dólar blue volte a negociar nos 10 pesos por dólar. Mas a tentativa será feita. Caminhamos para os 10 pesos por dólar, para uma nova intervenção do Estado e para uma batalha que agora encontra no governo menos força política e fôlego do que em maio - quando o câmbio tocou os 10 pesos.

Gestor de ativosEscreve à segunda-feirawww.cartafinanciera.com

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt