Aqui chegados…

Publicado a
Atualizado a

Mesmo o mais distraído já deve ter magicado sobre as razões para a agitação que tem vindo a afetar os serviços públicos. Ainda que se admita alguma motivação político-partidária, as reivindicações têm um denominador comum que se reconduzem a problemas de gestão, em geral, e de organização e gestão de pessoas, em particular.

Nada que não se antevisse: são, em última análise, os custos do "sucesso" havido na gestão das contas públicas. Não que contas certas tenham algo de errado. Mas, como aqui fui escrevendo, limitar-se a emagrecer o monstro, sem um tratamento adequado, continua a produzir um monstro, incapaz e improdutivo que, como em muitas dietas, anseia por voltar a engordar: as reivindicações pedem, no essencial, mais recursos e meios, como se tudo o resto estivesse bem. Ao abdicar de reformar a educação, a justiça, a saúde, para calar os parceiros de coligação, enquanto continha gastos, o PS limitou-se a adiar, agravando, o desastre anunciado. Está criado um cenário em que todos gritam e... todos têm razão.

O governo, qual consultor, sempre célere a apontar o caminho aos outros (veja-se, a urgência em subir salários!), pouco, ou nada, fez para reestruturar a administração pública, de maneira a remunerar de forma condigna, e atrativa, os seus profissionais, sem com isso comprometer as contas públicas. Assim, estamos chegados a um beco sem saída: as reivindicações são, no geral, justas, mas impossíveis de atender numa administração pública ao mesmo tempo excessiva e deficitária (um exemplo: pessoas por médico e por enfermeiro) e, por isso, cara e ineficaz. O mal piora quando se soma a este cenário as assimetrias de centralização e litoralização dos serviços. E agora? Vai ser difícil desatar o nó. O governo deve ponderar, explicando, até onde pode ceder, sem criar (mais) rigidez irreversível. Em paralelo, o primeiro-ministro deve criar as condições para chamar a si a responsabilidade de conduzir uma reorganização estrutural que tem tanto de imperiosa, como de falada e adiada. Se uma maioria absoluta não serve para isso...

Alberto Castro, economista e professor universitário

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt