Apple. Quem será o próximo líder?
No tempo de Steve Jobs, os rumores de que o cofundador estava doente e poderia deixar a liderança da Apple punham os mercados em alvoroço. Os investidores preocupavam-se com o vazio de poder e os analistas questionavam se a empresa continuaria a ser uma das mais inovadoras da indústria sem o visionário que a fundou. Agora, quase sete anos depois de Tim Cook ter substituído Jobs, a conversa da sucessão é mais natural. Cook não tem os rasgos de genialidade de Jobs, mas no seu mandato fez explodir as receitas e os lucros da empresa, tornando-a a mais valiosa do mundo. Expandiu de forma significativa as linhas de produtos e serviços, indo mesmo contra alguns dos princípios do antecessor - que, por exemplo, desdenhava canetas para ecrãs táteis e tablets de pequenas dimensões.
A questão de quem sucederá a Tim Cook foi colocada na reunião anual da empresa e não fez desabar as ações em bolsa. De acordo com o CEO, este é um tema discutido regularmente dentro da tecnológica de Cupertino, não apenas para o seu lugar mas para todos os cargos críticos de direção.
“Sabe-se que em todas as reuniões institucionais a questão da sucessão é levantada pelos investidores, por isso a equipa de liderança tem de responder a essas perguntas”, explica ao Dinheiro Vivo o vice-presidente de pesquisa da Gartner, Brian Blau. Na reunião, Tim Cook garantiu que “passar o bastão” de forma adequada é um dos seus papéis mais importantes.
Há três nomes que se destacam entre os vários que têm sido falados: Angela Ahrendts, que em 2015 deixou o cargo de CEO na Burberry para liderar o retalho na Apple; Jeff Williams, o diretor operacional que ocupa a posição que Tim Cook tinha quando foi nomeado CEO; e Craig Federighi, o homem-forte do software da marca. Cook não especificou nomes durante a reunião anual, sendo que a questão da sucessão também surgiu associada a Jony Ive, o diretor de design que regressou à equipa de liderança da Apple em dezembro de 2017, depois de uma ausência de dois anos nas responsabilidades quotidianas por causa do Apple Park (o novo campus da empresa).
Tim Cook assumiu o comando da Apple em agosto de 2011, quando Steve Jobs tinha apenas mais dois meses de vida. O CEO, que agora tem 57 anos, conduziu a empresa a trimestres sucessivos de recordes de lucros e vendas. No quarto trimestre de 2011, o primeiro em que Cook liderou do princípio ao fim, a Apple faturou 46,33 mil milhões de dólares e vendeu 37,04 milhões de iPhones. No mesmo período de 2017, o volume de negócios atingiu 88,3 mil milhões de dólares, mais que Google, Microsoft e Facebook juntas, e vendeu 77,13 milhões de iPhones.
“Suceder a Steve Jobs nunca foi fácil, mas penso que, no global, não foi nada mau, dadas as condições do mercado que tínhamos”, diz ao Dinheiro Vivo Roberta Cozza, diretora de pesquisa na Gartner. “O primeiro iPhone revolucionou o mercado”, explica, mas foi atingido um nível tremendo de maturidade ainda com Jobs na liderança. “Já não se podia esperar uma revolução todos os dias”, e Tim Cook soube direcionar a Apple de forma a continuar a crescer.
A analista considera que o perfil do sucessor será extremamente importante, porque nada está garantido neste mercado e as marcas estão a ser forçadas a olhar para lá do smartphone. “É preciso que seja um CEO que tenha visão sobre como a Apple vai evoluir. Com a concorrência a elevar a fasquia em cenários como a casa e o carro, é preciso ter alguém que seja um CEO forte.” Além dos três nomes já referidos, há vários executivos com posições críticas na empresa e capacidade para suceder. De acordo com o que Cook disse na reunião e o que já tinha abordado no ano passado, numa entrevista ao BuzzFeed, tudo indica que a procura por um sucessor será feita internamente.
“Encaro a preparação de tanta gente quanto puder para ser CEO como fazendo parte do meu papel, é isso que estou a fazer e depois o conselho de administração tomará uma decisão nessa altura.”
Roberta Cozza sublinha que o crescimento sustentado da Apple deverá estar no software, em especial no que respeita ao desenvolvimento da assistente inteligente Siri. Isso colocaria o foco em Craig Federighi.
“Uma vez que dependem tanto das receitas provenientes de hardware, e do iPhone em particular, precisam de investir em coisas que tornem a experiência do smartphone mais personalizada, envolver mais os utilizadores e fidelizá-los”, considera. Não há motivos para pensar que Tim Cook pretende deixar o cargo de CEO em breve, mas a sucessão está agora definitivamente no horizonte.