Alterações climáticas no top das ameaças da próxima década

O relatório do Fórum Económico Mundial aponta o ambiente e a instabilidade económica e política como os maiores riscos que pairam sobre o planeta.
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As alterações do clima, os desastres e danos ambientais provocados pelo homem, a perda de biodiversidade, as catástrofes naturais e a incapacidade dos governos e empresas conseguirem dar uma resposta eficaz e atempada a estes problemas são os principais riscos da próxima década apontados no Global Risks Report 2020, uma iniciativa do Fórum Económico Mundial. Pela primeira vez, o top 5 dos riscos globais em termos de probabilidade é dominado por questões ambientais.

"Estamos sentados num barril de pólvora", diz Fernando Chaves, especialista de risco da Marsh Portugal, que sublinha a "urgência numa resposta imediata". Mas falar a uma só voz parece difícil. Segundo o relatório, 78% dos mais de 750 especialistas e decisores mundiais que colaboraram no relatório admitem que as "confrontações económicas" e a "polarização política interna" irão aumentar em 2020. E, neste cenário, a capacidade de resolução dos riscos globais reduz-se significativamente.

Como realça Fernando Chaves, as maiores economias mundiais já deram no último quadrimestre do ano passado sinais de desaceleração, a que se soma a luta pelo poder a nível internacional, nomeadamente entre os EUA, China e Rússia. Esta turbulência geopolítica é um fator de instabilidade, numa altura em que os líderes mundiais se deveriam focar na resolução dos riscos.

Isto é "uma combinação quase explosiva", alerta Fernando Chaves, lembrando que os efeitos negativos também chegam às empresas, que perdem capacidade para dar resposta a investimentos em tecnologias menos poluentes. O relatório aconselha que os decisores políticos e empresários se adaptem a estes cenários, caso contrário o tempo pode-se esgotar para responder aos desafios mais prementes.

"Os ecossistemas biologicamente diversos capturam vastas quantidades de carbono e providenciam benefícios económicos massivos, estimados em 33 milhões de milhões anuais – o equivalente ao PIB combinado dos EUA e da China. É imperativo que empresas e decisores políticos acelerem a transição para uma economia neutra em carbono e modelos de negócio mais sustentáveis", sublinha Peter Giger, do Zurich Insurance Group.

Os inquiridos apontam também para este ano as "ondas de calor extremas", a "destruição de ecossistemas de recursos naturais" e "ataques cibernéticos" como riscos globais.

Novas gerações alarmadas

Os riscos ambientais são ainda mais preocupantes para aqueles que nasceram depois de 1980. Quase 90% dos inquiridos destas novas gerações admitem que, este ano, se agravarão as "ondas de calor extremas", a "destruição de ecossistemas" e o "impacto da poluição na saúde", quando os mais velhos têm uma visão mais moderada, 77%, 76% e 67%, respetivamente. E até 2030 os mais jovens acreditam que o impacto dos problemas ambientais será mais catastrófico e provável.

Estas novas gerações têm "uma visão diferente e muito mais negativa das perceções de risco aos níveis ambiental e económico do que as mais velhas" e podem vir a "reivindicar os seus direitos, provocar tensões", considera o responsável.

Fernando Chaves realça ainda as preocupações com a saúde pública, numa altura em que muitas famílias ocidentais estão a evitar a vacinação e existe a possibilidade do surgimento de novas doenças, provenientes dos desmates das florestas e dos degelos árticos. Para o especialista da Marsh, é necessário repensar os serviços nacionais de saúde, tendo por base estas novas realidades e a falta de investimento na modernização de equipamentos e a falta de profissionais de saúde.

O Global Risks Report 2020 foi desenvolvido pelo Global Risks Advisory Board do World Economic Forum (Fórum Económico Mundial), em parceria com a Marsh & McLennan e Zurich Insurance Group.

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