AdC acusa hospitais privados de concertarem posições face à ADSE

Processo foi iniciado em 2019, depois de os grupos de saúde terem ameaçado rasgar convenções com o subsistema de saúde dos funcionários públicos.
Publicado a
Atualizado a

A Autoridade da Concorrência (AdC) acusou esta quinta-feira a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) e vários grupos privados de saúde de práticas concertadas em negociações com a ADSE, subsistema de saúde da função pública, e Instituto de Ação Social das Forças Armadas (IASFA).

Em comunicado, a AdC dá conta da nota de ilicitude adotada nesta quinta-feira pela autoridade ao cabo de um processo iniciado em março de 2019, e considera provável que as entidades visadas venham a ser sancionadas.

Estão em causa, além da APHP, os grupos hospitalares CUF, Trofa Saúde, Hospital Particular do Algarve, Lusíadas e Luz Saúde, acusados "por envolvimento num acordo ou prática concertada restritivos da concorrência na contratação de serviços de saúde hospitalares privados por parte dos subsistemas de saúde públicos ADSE e IASFA", refere a comunicação da entidade liderada por Margarida Matos Rosa.

"Com base na prova recolhida, a acusação da AdC considera que existe uma probabilidade razoável de estas empresas virem a ser sancionadas por haverem coordenado entre si a estratégia e o posicionamento negocial a adotar no âmbito das negociações comerciais com a ADSE e o IASFA, através e com a participação conjunta da APHP, desde, pelo menos, 2014 e até, pelo menos, 2019", indica.

Segundo a AdC, o "acordo ou prática concertada" entre os grupos de saúde "visaria a fixação do nível dos preços e outras condições comerciais, no âmbito das negociações com a ADSE, bem como a coordenação da suspensão e/ou ameaça de denúncia das convenções, por parte das já referidas empresas, no âmbito das negociações com a ADSE e o IASFA".

Recorde-se que em fevereiro de 2019, os maiores grupos privados de saúde nacionais ameaçaram rasgar convenções com a ADSE na sequência de pedidos de regularização por despesas faturadas a mais que rondavam então os 40 milhões de euros. Na sequência deste diferendo, acabaram por ser negociadas novas tabelas, e alteradas as regras de regularização, com o governo a assegurar até aqui que a devolução dos valores considerados em excesso pelas regras de então não está esquecida.

A AdC considera agora na nota hoje publicada que "a atuação coletiva destas empresas ter-lhes-á permitido aumentar o seu poder negocial face à ADSE e ao IASFA, levando à fixação de preços e de condições comerciais potencialmente mais favoráveis para as empresas de saúde visadas do que as que resultariam de negociações individuais no âmbito do funcionamento normal da concorrência no mercado".

Informa ainda que o processo foi aberto "a 14 de março de 2019, na sequência de várias denúncias e de notícias veiculadas pelos meios de comunicação social" e que em maio do mesmo ano foram feitas "diligências de busca e apreensão em instalações das empresas visadas, localizadas em Portimão, em Lisboa e no Porto".

Com a nota de ilicitude adotada hoje pela AdC, junta também, o processo deixa de estar em segredo de justiça, passando a ser público, não estando porém ainda determinado o resultado final da investigação. "Nesta fase do processo, é dada a oportunidade às empresas, que gozam de presunção de inocência, de exercerem o seu direito de audição e defesa em relação ao ilícito que lhes é imputado, à prova reunida e à sanção ou sanções em que poderão incorrer", refere.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt