A última etapa da inflação
As últimas semanas trouxeram evidências de que os principais bancos centrais das economias desenvolvidas estão mais confortáveis com as dinâmicas da inflação. Neste momento, as leituras dão nota que os atuais níveis da evolução dos preços deverão continuar abaixo dos 3%, e existem sinais de que a tendência descendente deverá continuar no próximo trimestre, e também em 2025 uma vez que o mercado de emprego nos dois lados do atlântico se encontra menos dinâmico, enquanto as expectativas de pressões sobre a oferta (preços dos fatores de produção) permanecem limitadas. Parece desta forma, que entramos numa última etapa do regresso a uma normalidade monetária, com as taxas de juro diretoras progressivamente a descerem para valores mais neutrais.
As
leituras têm vindo a confirmar que continua a imperar a força dos bancos centrais neste braço de ferro com a evolução dos preços. Nos Estados Unidos, a inflação global medida pelo IPC caiu de 2,9% em termos homólogos em julho para 2,5% em agosto, devido em particular a efeitos de base negativos sobre os bens energéticos: em termos homólogos, a queda alargou-se de -2,0% para -10,1 %. A inflação subjacente, por sua vez, estabilizou-se em 3,2%, quando comparados com o mesmo período de 2023, em que a componente da habitação acelerou 0,2% nesta leitura de agosto, para os 5,2%.
Na União Europeia, as leituras vão no mesmo sentido, mas com algumas notas de cautela. A inflação na zona euro também caiu em agosto, em -0,4 pp para 2,2% em termos homólogos, com uma descida significativa na Alemanha (-0,6 pp para 2,0%), França (-0,5 pp para 2,2%) e Espanha (-0,5 pp para 2,2%) e Espanha (-0,5 pp para 2,2%). pp para 2,4%). Contudo na Europa, a inflação subjacente desacelerou apenas marginalmente de 2,9% para 2,8%. Acresce ainda que o preço nos serviços também desacelerou bastante pouco, de 4,1% para 4,0% em julho, o que é um sinal de que alguma resiliência ainda persiste. Por países, a Bélgica continua a ser, de longe, o país da zona euro com a inflação mais elevada, de 4,4% em agosto, enquanto o aumento dos preços é inferior a 1% na Lituânia ou na Letónia.
Ou seja, a inflação encontra-se num processo de continuo de normalização na Europa, e os dados do verão podem significar que entrámos provavelmente na última etapa de ajustamento. O processo de controlo monetário dos preços veio com custos para as economias, fragilizando a atividade económica, e isso também terá alguma influência nos próximos trimestres, apesar de não ser o principal mandato do Banco Central Europeu. A gestão deste novo ciclo no agregado dos países do euro é no entanto desafiadora, uma vez que as dinâmicas de crescimento e da inflação são bastante diferentes entre os países da zona euro, tornando a tarefa do banco central bastante mais complexa, em termos de gestão dos equilíbrios - por exemplo, na Bélgica, os preços continuam a aumentar 5,5%, enquanto na Finlândia a inflação já recuou para 0,6%. Não obstante, o caminho não deverá desviar-se muito, e 2025 deverá acomodar uma gradual descida da agressividade monetária do BCE. Com taxas mais baixas, deverão vir melhores condições para a Europa voltar a crescer. Portugal não será exceção.
Economista, Presidente do Internacional Affairs Network